O vento frio não dava trégua, cortando como navalha sobre a pele exposta. O aplicativo ainda mostrava: “chegada em 14 minutos”. Eu já não sentia os dedos.
Gabriel continuava parado à minha frente, imponente, mas sem pressa. Não insistia. Apenas esperava.
Respirei fundo, nervosa.
— Está me pressionando.
Ele ergueu a sobrancelha.
— Só estou oferecendo uma carona. O resto é escolha sua.
Mordi o lábio, indecisa. O bom senso gritava para eu não aceitar. Mas outra parte de mim… cansada do frio, da espera, do olhar insistente das sombras do estacionamento… queria apenas acabar logo com aquilo.
— Uma carona. — enfatizei, olhando firme. — Só isso.
— Só isso. — ele confirmou, sem hesitar.
Meus pés se moveram antes que eu mesma decidisse.
— Tudo bem.
Um sorriso lento apareceu no canto dos lábios dele, mas não havia arrogância. Apenas a certeza de que já esperava essa resposta.
Ele fez um gesto com a mão.
— Vem.
Seguimos até o carro dele. Preto, brilhante, tão diferente dos carros velhos e batido