Mundo de ficçãoIniciar sessãoMeu amigo de infância havia me prometido que se casaria comigo assim que nos formássemos na universidade. Mas, no dia do nosso casamento, ele apareceu atrasado. Quando finalmente o encontramos, estava numa cama de hotel, entrelaçado com minha meia-irmã, Bianca Ferreira. Diante de todos, foi o herdeiro mais poderoso do país, Antônio Rodrigues, quem deu um passo à frente e anunciou, sem hesitar, que eu era a mulher por quem nutria um amor secreto havia anos. Casamo-nos. Durante cinco anos, cada palavra que eu dizia era guardada por Antônio como um tesouro. Eu acreditava que era a pessoa que ele mais prezava no mundo. Até o dia em que, enquanto fazia faxina, encontrei por acaso um documento confidencial escondido no fundo de uma gaveta de sua escrivaninha. Na primeira página estava o currículo de Bianca. Sobre ele, escrito de próprio punho: "Prioridade absoluta. Acima de tudo." Logo depois, vinha um arquivo de regulação hospitalar que eu jamais tinha visto. A data era exatamente a da noite do meu acidente. Naquela noite, eu tinha sido levada ao hospital do Grupo Rodrigues. Esperei, esperei… E a cirurgia não vinha. Quando acordei, o bebê que eu carregava já não existia, perdido pela hemorragia. Chorei até perder a voz nos braços de Antônio, mas nunca contei a verdade. Não queria que ele sofresse ainda mais. Só agora descobria que, naquela mesma noite, Bianca também havia se machucado. E que a ordem de Antônio ao hospital fora: "Mobilizem todos os especialistas. Prioridade máxima para Bianca." Minhas lágrimas caíam sobre o papel, borrando a tinta. E então, finalmente, entendi... — Se eu não sou a sua prioridade máxima… Então desaparecerei da sua vida.
Ler maisNo quarto particular do hospital, o médico já havia tratado os ferimentos de Rafael. Eu estava sentada ao lado da cama, observando o perfil tranquilo dele enquanto dormia. Finalmente, senti meu coração aliviar pela primeira vez desde o ocorrido.Foi então que alguém bateu suavemente na porta.Levantei-me para abrir.Era Antônio.Ele estava sozinho, parado no corredor, a cabeça baixa. Já não havia nenhum traço do homem confiante e brilhante que eu conhecera um dia.— Tainá… Nós…Podemos conversar?Olhei para Rafael adormecido. Fechei a porta atrás de mim e acompanhei Antônio até o corredor.— Tainá, eu errei. — Ele ergueu o rosto. Os olhos estavam vermelhos, cheios de veias estouradas. — Depois que você foi embora, eu entendi o tamanho do meu erro. A culpa transbordava em cada palavra. Eu me lembrei das noites em que, não importava a hora em que eu voltasse das reuniões regadas a álcool, você sempre me esperava com um chá para me ajudar a acordar. Lembrei que, quando meu estômago estava
— Bianca. — Falei com calma, sem qualquer emoção na voz. — Aqui é um espaço privado de trabalho. Por favor, saia.— Sair? — Ela soltou uma gargalhada histérica. — Tainá, sua vadia! Você destruiu tudo o que eu tinha. Meu casamento, minha reputação. E agora posa de dona do mundo? Se não fosse por você, eu nunca teria chegado a esse ponto!O ódio em seus olhos era tão denso que parecia querer me rasgar viva.— Até o Antônio… Até ele me abandonou por sua causa! Você acha que venceu, não é?Antes que terminasse a frase, ela avançou contra mim como uma louca, as unhas apontadas diretamente para o meu rosto.Eu mal tive tempo de reagir quando uma sombra se interpôs diante de mim.Era ele.O cliente habitual da cafeteria e verdadeiro dono do ateliê: Rafael.— Senhora, controle-se. — Disse ele de forma firme, segurando o pulso de Bianca com força e calma.Bianca gritou, contorcendo-se, tentando se soltar como um animal fora de si.E então, nesse exato momento, a porta foi novamente escancarada.
No dia seguinte, o contato me enviou, por iniciativa própria, a última mensagem. Era um link de notícia sobre Antônio. A matéria dizia que o herdeiro do maior império empresarial estava há meses sem aparecer em público e que todo o trabalho do grupo tinha sido repassado ao assistente.Junto ao texto havia uma foto tirada de longe.Antônio estava sozinho à beira de um penhasco, a silhueta abatida, o olhar completamente vazio.Fiquei olhando para a imagem.Não senti ódio.Não senti satisfação.Apenas um silêncio morto dentro do peito.Pelo visto, o arrependimento dele talvez fosse real.Mas… E daí?Eu não queria voltar a ser a esposa usada como escudo, muito menos ser a redenção de alguém que só aprendeu a me amar tarde demais.— Srta. Fabíola.A voz do cliente habitual soou ao meu lado. Ele aparecera novamente naquele dia. Estendeu para mim uma pasta com acabamento impecável.— Eu não vou. — Respondi antes mesmo de olhar.— Por quê? — Ele questionou sem agressividade, apenas sincero. —
Embora eu tivesse dito que não me importava, não consegui conter a curiosidade e pedi ao contato que enviasse o último relatório. O conteúdo era curto. Bianca havia sido abandonada pelo marido e expulsa do Grupo Rodrigues. No círculo da elite, seu nome simplesmente deixara de existir.Antônio mobilizara todas as forças possíveis, revirando meio mundo, e ainda assim não encontrara nada. Segundo o relatório, fazia muito tempo que ele não aparecia em público. Sua personalidade tinha mudado por completo, a ponto de ninguém mais reconhecê-lo.Li tudo sem qualquer expressão. Em seguida apaguei as informações.Ele começara a se arrepender.E eu já tinha deixado o mundo dele há muito tempo.Todo o amor tardio que ele agora sentia só podia ser uma piada para mim.— Fabíola, sua latte art ficou linda!A voz da nova garçonete atrás do balcão cortou meus pensamentos. Empurrei a xícara para ela e disse baixinho:— É só uma onda do mar. Vai, entrega logo.— Fabíola… — A menina inclinou a cabeça. — V
Aquele e-mail programado era a minha sentença para Antônio e também o adeus final ao nosso casamento.Enquanto o mundo dele desmoronava, eu já estava em uma pequena cidade litorânea. Tudo que pertencera ao passado ficara a milhares de quilômetros de distância.Aqui não havia Grupo Rodrigues.Não havia Antônio.Havia apenas um quarto simples e uma janela com vista para o mar.Adotei um novo nome: Fabíola.A Tainá que caminhava sempre com cautela, medindo cada passo, tinha sido enterrada por minhas próprias mãos. Escondi-me ali, invisível para o mundo, pronta para terminar sozinha o resto da minha vida.No começo, quase não conversava com ninguém. Minha rotina se resumia ao café da esquina e ao apartamento. Os moradores da pequena cidade me viam como uma forasteira silenciosa e, intuitivamente, mantinham distância. Era exatamente essa quietude que eu desejava.Antes, eu acreditava que felicidade era um brilho de joias, era saber me mover com elegância nos salões da alta sociedade. Mas ag
Antônio ficou paralisado por um instante. Depois agarrou o colarinho do assistente com força, os olhos completamente arregalados.— O que você disse?!O assistente, aterrorizado, gaguejou enquanto tentava respirar.— S-sr. Antônio… A sra. Tainá… A sra. Tainá desapareceu no topo da montanha. A última pessoa que a viu disse que ela estava perto do penhasco. A equipe de busca encontrou o relógio dela, bem na beira.— Impossível! — A voz dele saiu rouca, como se se partisse por dentro. — Ela jamais se suicidaria! Ela queria subir sozinha, mas ninguém me avisou. Por quê? Por que ninguém me avisou?!O assistente engoliu em seco, tímido e quase tremendo.— Sr. Antônio, eu passei a noite inteira tentando ligar para o senhor, mas o seu celular estava desligado o tempo todo.Antônio puxou o próprio aparelho às pressas. A tela estava preta e não acendia de jeito nenhum, por mais que tentasse.Ele virou o rosto bruscamente para Bianca, o olhar frio como uma lâmina.— Foi você que desligou o meu ce





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