Capítulo 2
Na manhã seguinte, Antônio estava no closet ajustando a gravata. Passei o batom calmamente e falei num tom leve:

— Hoje quero ir com você ao jantar de comemoração.

As mãos dele pararam no ar por um instante. Nossos olhares se encontraram pelo reflexo do espelho. Depois de uma fração de surpresa, ele recuperou o sorriso habitual, suave e impecável.

— Claro que pode. Só não quero que você se canse. Entregamos o presente e saímos logo depois.

Assenti devagar, consciente de que aquele seria o último evento social ao qual eu compareceria como esposa dele.

O salão de festas brilhava sob luzes exuberantes. A alta sociedade inteira estava reunida para celebrar Bianca. Com uma taça de champanhe na mão, afastei-me da multidão, buscando um canto silencioso, mas não havia como fugir das vozes que a exaltavam.

— Srta. Bianca, a coleção de joias do leilão está simplesmente deslumbrante. Qualquer peça alcançará um preço astronômico. É uma honra participar do evento organizado por você. Certamente será um sucesso.

Bianca sorria tão radiante que parecia prestes a flutuar.

— Imagina, eu só preparei tudo por diversão mesmo.

Quando finalmente me notou, seus olhos tremularam por um segundo. Foi um lampejo de culpa rápido demais para qualquer um perceber. Mas eu vi.

— Tainá. — Ela chamou em voz alta, teatral, com um sorriso calculado. — Você está com uma cara péssima. Ainda preocupada com o leilão? Relaxe, deixa isso comigo. Você só precisa ficar quietinha em casa e não atrapalhar. Pode deixar o resto comigo.

Não respondi. Meu olhar já estava preso na tela gigante onde eram exibidos os desenhos manuais das joias. No instante em que reconheci os traços, meu coração se contraiu violentamente.

Os meus designs.

Cada sketch daquela coleção era fruto de noites intermináveis, rabiscando, revisando, aprimorando. Projetos que eu nunca havia mostrado a ninguém. Revelaria tudo pela primeira vez no leilão. Brilhante, exclusivo, meu.

Mas agora… Estavam ali, na tela, assinados com o nome "Bianca".

Bianca se aproximou e inclinou a cabeça perto do meu ouvido, com um sorriso venenoso.

— Gostou das minhas criações, Tainá? Quando o conselho do Grupo Rodrigues me der a porcentagem dos lucros… Tenta não morrer de inveja, tá?

Fechei os punhos com força. Tremia de raiva, cada músculo prestes a explodir. Eu estava prestes a responder quando ela, de repente, se jogou para trás. Simplesmente se deixou cair, levou a mão ao ventre e soltou um grito agudo.

— Aaah! Tainá, por que você me empurrou?!

Caiu no chão soluçando alto, lágrimas escorrendo pelo rosto, atraindo a atenção de todos.

— O que aconteceu?!

— Meu Deus, a Bianca está grávida. Como alguém pode empurrá-la?!

— Chamem um médico, rápido!

Em segundos, a sala inteira se virou contra mim. No meio do caos, uma figura alta avançou pela multidão para alcançar Bianca. Com extremo cuidado, acolheu-a nos braços.

Era Antônio.

Ele não me lançou sequer um olhar. Como se eu não existisse no mundo dele. Ajeitou Bianca com delicadeza.

— Você está bem?

Bianca se aconchegou contra o peito dele, chorosa e frágil.

— Tonho… Está doendo…

Antônio então levantou os olhos para mim. Toda a doçura de antes havia desaparecido. O que restava era apenas decepção.

— Tainá. — Disse ele num tom calmo, mas tão cortante que doía mais que um grito. — Se havia algo te incomodando, poderíamos ter conversado em casa. Era preciso fazer algo tão cruel?

As vozes ao redor foram ficando distantes, como se o mundo inteiro estivesse atrás de uma parede de vidro. Eu só conseguia olhar para ele. Minha voz saiu rouca:

— Antônio, me diz… Por que ela tem os desenhos originais das minhas joias?

Ele hesitou por um segundo. Foi mínimo, mas suficiente. Desviou o olhar como se fosse uma coincidência banal.

— Deve ter sido coincidência. Ela também gosta de joias. Vocês são irmãs. Não é impossível que tenham ideias parecidas.

"Coincidência?"

Minhas mãos ficaram frias. Todas as minhas artes eram arquivos criptografados. Senha dupla. Apenas duas pessoas sabiam o código: eu e ele.

A verdade me atingiu como um tapa.

Foi ele.

Alguém tinha me traído.

Aquela coleção inteira, cada peça e cada traço, era o presente que eu vinha preparando para o nosso quinto aniversário de casamento. Eu queria provar que não era um acessório na vida dele, mas uma mulher capaz de caminhar ao lado do herdeiro mais poderoso do país.

Agora tudo havia sido roubado. Transformado na arma usada contra mim.

De repente, comecei a rir.

Um riso curto e quebrado, que queimava meus olhos e fazia meu nariz arder.

Antônio entrou em pânico. Ele entregou Bianca aos paramédicos e avançou rapidamente na minha direção. Agarrou minhas mãos com força, como se temesse que eu desaparecesse ali mesmo.

— O que houve? Está se sentindo mal? Aqui está muito tumultuado. Vou te levar para casa agora.

Respirei fundo e empurrei as lágrimas de volta.

— Está bem.

O rosto dele relaxou. Por um instante, parecia aliviado. Meu sorriso permaneceu quando continuei:

— Mas eu não quero voltar para casa. Amanhã é meu aniversário… E eu quero ver o nascer do sol no alto da montanha. Com você.
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