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Quando o Amor Vira Assassinato

Quando o Amor Vira AssassinatoPT

História Curta · Contos Curtos
Marina Alencar  concluído
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1.7Kleituras
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Resumo
Índice

Luciano Lopes, meu noivo, era piloto de balão de ar quente. Violeta Frota, seu primeiro amor, um dia apareceu insistindo numa aventura, subindo com ele até alturas que tocavam as nuvens. Foi quando o balão começou a perder hélio, transformando o passeio em perigo real. Nossas vidas ficaram por um fio, suspensas entre o céu e a queda. No instante mais crítico, Luciano agarrou o único paraquedas duplo e, sem pestanejar, saltou levando Violeta consigo. De olhos marejados, agarrei sua mão com força, implorando com uma voz embargada: — Estou esperando um filho seu. Por favor, me leve com você. Ele, porém, soltou minha mão com frieza e repreendeu com impaciência: — Que hora para ciúmes e para inventar história de gravidez! Violeta morre de medo de altura e não sabe pular de paraquedas como você. A gente se encontra lá embaixo. Ele se afastou de mim sem dó nem piedade e saltou abraçado Violeta. O que ele jamais imaginaria é que o único paraquedas que me restava tinha sido sabotado por ela, com um corte sutil nas cordas. E assim, carregando uma vida dentro de mim, saltei daquela altura assustadora, mergulhando num abismo sem fim.

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Capítulo 1

Capítulo 0001

Presos um ao outro como se fossem uma só criatura, Luciano e Violeta ajustavam o paraquedas duplo em seus corpos. No semblante de Violeta transbordava uma certeza inabalável. Com Luciano ao seu lado, parecia que nenhuma ameaça neste mundo seria capaz de alcançá-la.

Enquanto isso, minhas mãos trêmulas seguravam o único paraquedas restante, e um calafrio de horror percorreu minha espinha.

No tecido esticado, se escancarava um rasgo imenso, com a agulha da sabotagem ainda cravada ali, qual sentença de morte sussurrando: "Não há salvação para você!"

O balão deslizava preguiçosamente sobre o abismo rochoso. Contemplei a queda vertiginosa abaixo, onde o vento cortante uivava como uma fera escarnecendo da minha desgraça.

Como eles planejaram, saltei daquela altura aterradora, carregando no ventre uma vida que mal começava.

A queda livre me sugava a essência. Minha alma pairava suspensa, contemplando impotente enquanto meu corpo despencava qual boneco de pano através da cerração densa, rumo ao encontro com o fim.

Lembranças me inundaram feita enxurrada de verão.

Mal tinha aprendido a saltar de paraquedas quando descobri a gravidez.

Planejava contar a Luciano no dia do seu aniversário, mas agora estava claro que isso não significaria nada para ele.

Momentos antes, eu ainda implorava:

— Estou grávida mesmo, Luciano. Por favor, me leve com você.

No entanto, ele franziu o cenho irritado e retrucou:

— Violeta tem medo de altura e problemas cardíacos. Não posso deixar ela sozinha. E você inventa essa história de gravidez agora? Logo agora?

— Não estou inventando nada!

Explodindo de raiva, ele replicou:

— Daniela, por que você não consegue ser bacana que nem a Violeta? Para de fazer drama!

Me ignorando completamente, Luciano voltou a ajustar com cuidado as fivelas do paraquedas em Violeta.

Enquanto eu estava à beira da morte, desesperada como formiga em uma panela quente, os dois planavam serenamente pelos ares. Luciano até reduzia a velocidade da descida, como se quisesse que Violeta saboreasse cada segundo daquele panorama de tirar o fôlego.

A morte eu poderia encarar, mas a ideia de que meu filho, ainda em meu ventre, jamais conheceria este mundo era insuportável.

Sem hesitar, disquei para o serviço de emergência com mãos trêmulas.

— Srta. Daniela, mantenha a calma. Antes de tudo, precisamos aliviar o peso do balão. Jogue tudo que não for essencial para reduzir a velocidade da queda. — Orientou o atendente.

Com movimentos desesperados, segui as instruções e lancei ao vazio diversos objetos.

— Estamos tentando contato com os balonistas da região. Por favor, não desligue.

O hélio, porém, escapava numa velocidade muito além do que eu havia imaginado.

Entre soluços, implorei:

— Pelo amor de Deus, se apressem! O tempo está acabando. Estou quase sobrevoando o penhasco.

Não demorou para que um funcionário do parque retornasse minha chamada.

— É Daniela mesmo? Luciano não está com você?

— Ele saltou com Violeta. Meu paraquedas está com defeito. Preciso de socorro urgente!

O funcionário deixou escapar um suspiro pesado.

— Que azar danado. Logo hoje os dez balões estão todos ocupados, com os pilotos em pleno voo. E justamente na Zona A, onde vocês estão, quase ninguém costuma passar. — Enquanto tentava me acalmar, ele sugeriu. — Você consegue localizar a válvula de gás? Libere um pouco para diminuir a altura.

O balão flutuava sobre o abismo que parecia não ter fim abaixo de mim. Liberar o gás naquele momento só apressaria meu encontro com a morte.

— Impossível soltar o gás agora. Estou em cima do penhasco, a altura é assustadora.

O funcionário também parecia sem saída.

— Não se desespere. Luciano já saltou, não foi? Assim que ele pousar, vou mandar ele te buscar imediatamente.

A angústia tomava conta de mim, sem saber se Luciano já havia chegado ao solo. Ele era minha única esperança de salvação.

Resolvi arriscar uma ligação para ele. Somente após o terceiro toque, Luciano finalmente atendeu ao telefone.

Entre soluços desesperados, implorei:

— Pelo amor de Deus, Luciano... Preciso que você venha me socorrer!

Nem tive chance de explicar sobre o paraquedas danificado. Com tom cortante, ele me interrompeu:

— Ah, claro! Primeiro inventou aquela história de gravidez, e agora vem com essa de medo de altura? No parque de diversões, você adorava a montanha-russa radical enquanto os caras todos ficavam brancos de medo! Tudo isso é só para disputar atenção com a Violeta, né? Que papelão, viu? Salta logo de uma vez e para com essa enrolação!

Ao fundo, consegui distinguir a voz melosa de Violeta:

— Luciano, estou me sentindo mal. Meu peito está apertado.

Com frieza cortante, ele disparou seu último recado:

— Tenho que correr com a Violeta para o hospital. Quando você pousar, se vira para voltar sozinha para casa.
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