A mansão estava mergulhada em silêncio, exceto pelo som dos passos apressados de Dante ecoando pelos corredores luxuosos. Ele ignorou Brian, ignorou o mundo. A única coisa que lhe importava agora… era ela.Chegou à porta do quarto de hóspedes, onde Unirian havia se refugiado. Ele bateu duas vezes, mas não esperou resposta. Abriu.Unirian estava de costas, parada à janela, abraçando a barriga. O vestido azul escuro parecia mais justo agora, delineando o ventre de oito meses — o lar do pequeno VDante falou baixo, sem fôlego.— Unirian… me escuta, por favor.Ela não se virou.Dante um pouco mais próximo.— Eu errei. Fiz tudo da forma errada. Mas não posso… não consigo ficar sem você.Unirian ainda sem olhar pra ele.— Você já estava sem mim… só não tinha notado.O silêncio se arrastou. Dante deu mais um passo, mas ela levantou a mão, ainda de costas.— Não. Não se aproxime — ela faz uma pausa.— Eu preciso de espaço. Preciso respirar longe de você.Dante a voz trêmula.— Você é minha re
O céu coberto de nuvens escondia a lua, como se até ela recusasse assistir o que estava para acontecer. Na casa silenciosa, todos dormiam. Todos… menos um.Dante Marchesi estava acordado. Há dias. Com os olhos vermelhos, os músculos tensos, o paletó escuro como a própria noite.Ele não precisava de Ricci. Nem de Petrov. Essa tarefa era dele.Quando se tratava de sua perdição, Dante cometia o pecado com as próprias mãos, com gosto.Brian dormia em um dos quartos da casa de hóspedes. A porta entreaberta. Inocente demais para alguém tão sujo.Dante entrou sem fazer barulho. Como uma sombra viva.A respiração lenta. O olhar sem emoção. Ao se aproximar da cama, viu o falso irmão encolhido, vulnerável.Mas não sentiu pena. Apenas fúria contida.Com um movimento seco, Dante tapou a boca de Brian com uma das mãos, pressionando sua cabeça contra o travesseiro. A outra mão segurava a faca curva, rente à pele do pescoço do homem.Os olhos de Brian se abriram, em choque, sem ar, tenta
A reunião foi convocada com urgência no Salão da Fortaleza Marchesi, uma mansão escondida nas colinas da Toscana. Todos os representantes da família estavam presentes — inclusive aliados italianos, russos e do Oriente Médio. As imagens do coração e olhos de Brian espalhadas por uma sala ensanguentada eram projetadas em um telão. — Dante, você ultrapassou todos os limites. Matar seu próprio irmão? Isso é inaceitável. — E agora, você se apega a essa mulher, essa "virgem do diabo", como se ela fosse mais importante que nossa família. — Talvez seja hora de tirá-la de você, para que volte a pensar com clareza. As palavras mal haviam sido pronunciadas quando Dante se levantou lentamente, seus olhos escurecendo com uma fúria contida. Dante com voz baixa e ameaçadora. — Avô, repita isso. Diga mais uma vez que pretende tirar Unirian de mim. O silêncio tomou conta da sala. Todos os presentes sentiram a mudança no ar, como se uma tempestade estivesse prestes a desabar. Don Vittorio ten
Os olhos dele estavam marejados. Pela primeira vez na vida, aquele homem que enfrentava o submundo inteiro sem pestanejar, tremia como um menino. Enquanto a equipe médica corria contra o tempo, as portas da sala se fecharam diante de Dante, e ele caiu de joelhos ali mesmo, ao lado do sangue que ela deixou no chão. Petrov baixando-se ao lado dele. — Dante... ela é forte. E o pequeno Villano também. Eles vão resistir. Dante em sussurros, olhando para as mãos sujas de sangue. — Eu devia ter ficado com ela. Eu devia ter morrido no lugar dela... Ela era o que me mantinha humano. Lá dentro, Unirian estava pálida, imóvel. Seu coração parou duas vezes. Os médicos aplicaram choques, massagem cardíaca... o tempo parecia parar. Médico gritou. — Carga total! Choque! — Vamos, respira... respira! Por instantes, só se ouvia o bip contínuo da parada. Até que... BIP... BIP... BIP... O coração dela voltou a bater. Enfermeira ofegante. — Ela... ela está de volta. Fraca, mas está! Outro
A madrugada estava fria. A mansão silenciosa.Dante não dormia direito há semanas, mas naquela noite, o cansaço venceu. Com Villano adormecido no peito, ele se deitou na cama onde um dia Unirian sorriu para ele pela última vez... e caiu num sono denso, sombrio, tão profundo quanto seu vazio.Então veio o sonho.Não havia lugar. Nem luz. Apenas a voz dela.— Dante...— Você tá me ouvindo?A voz soava baixa, distante. Quase como um eco dentro dele.— Não deixa de me sentir.— Eu tô aqui... me encontra.E então, no meio do breu, os olhos dele a viram — ela, vestida de branco, leve, com a mão estendida, como se fosse feita de luz e saudade. O rosto cansado, mas sereno. O ventre vazio. A dor, deixada para trás.— Nosso filho precisa de mim. E eu... preciso de você.Dante tentou correr até ela, mas seus pés afundavam em algo invisível. Como se estivesse preso ao chão da realidade, enquanto a alma dele estendia a mão para alcançá-la.— Acorda pra mim, Unirian...— sussurrou, em lágrimas.
A porta da mansão se abriu devagar, e Unirian cruzou o limiar nos braços de Dante. Ele insistiu em carregá-la, mesmo que ela dissesse que estava bem. Seus olhos estavam atentos a cada passo, como se o chão pudesse ruir a qualquer instante.— Você está exagerando...— ela sussurrou, rindo leve.— Não quero correr riscos. Não mais,— ele murmurou, com os lábios próximos à testa dela.Petrov e Ricci observavam com expressões discretas, mas orgulhosas. Sabiam que ali não morava mais apenas um chefe implacável — mas um homem com algo (ou melhor, alguém) a perder.Ao entrarem no quarto, tudo estava como Dante tinha deixado. Lençóis limpos, travesseiros fofos e ao centro da cama... um pequeno ninho para Villano, cuidadosamente preparado com o mesmo zelo de quem prepara um trono.Unirian sentou-se devagar, suspirando ao olhar o berço portátil ao lado da cama. Dante colocou o bebê com delicadeza, como se estivesse depositando seu próprio coração ali.Ela olhou para ele, com os olhos marejados.—
O som do jazz elegante preencheu o ambiente enquanto os convidados brindavam ao nome dos Marchesi. Dante, agora mais calmo, observava Unirian conversando com os Morozov e segurando Villano no colo com naturalidade. Era como se ela tivesse nascido para aquele mundo — e, de certa forma, havia mesmo.Mas foi quando Ricci se aproximou discretamente, com o olhar levemente tenso, que o sangue de Dante começou a ferver.— Senhor Marchesi…— ele se curvou e sussurrou — temos uma presença inesperada no salão. Ela entrou com o grupo de diplomatas franceses.— Quem?— Dante franziu a testa.Ricci apenas olhou discretamente para a mulher ao fundo do salão.E ali estava ela.Caterine Valois.A mulher por quem Dante quase perdeu o controle anos atrás. A que ele chamava de *Rosa do Inferno*. A única que ousou amá-lo do jeito errado.Vestia vermelho sangue. Um vestido colado ao corpo, com uma fenda ousada que revelava a perna até a metade da coxa. O cabelo preso em um coque elegante, e um sorriso d
A fumaça do charuto pairava no ar como um véu denso de segredos. O patriarca dos Marchesi, Severino, observava a taça de conhaque em sua mão como se nela estivesse o destino da linhagem. À sua frente, sentada como uma dama de porcelana, estava Caterine Valois— elegante, com um vestido preto justo e um colar de rubi no pescoço.— Ele se apaixonou por ela. De verdade.— disse Don, com nojo contido. — Uma garota sem nome, sem sangue nobre. Uma virgem que virou obsessão.Caterine sorriu com doçura venenosa.— Por isso você me chamou de volta da morte?— Você era a única que ele obedecia sem questionar. A única que ele desejou antes de ficar cego por essa... Unirian.Ela inclinou-se para frente, com os olhos brilhando.— Então vamos fazer o lobo lembrar de onde ele veio. E quem ensinou a matar.Don bebeu o conhaque num gole só.— Traga ele de volta. Nem que seja quebrando o que o mantém fraco.Mais tarde, no jardim — Encontro entre Caterine e Unirian.Unirian estava sentada à sombra das ros