Então, o toque de um celular quebrou o silêncio. Alto. Invasivo. Ele tirou um aparelho de dentro de uma sacola no porta-luvas, e atendeu sem hesitar, e a língua que saiu de sua boca me fez piscar.
Era novamente romeno. Mas dessa vez eu não consegui identificar nada. Me amaldiçoei mentalmente por não ter participado de mais aulas no ensino médio.
As palavras saíam rápidas, ásperas, num tom de raiva contida. Ele não gritava, mas parecia estar perdendo a paciência com quem quer que estivesse do outro lado da linha. O jeito como ele olhava para o nada, o punho apertando o volante, me dava calafrios. Em alguns momentos, ele me lançou um olhar — curto, mas suficiente para me fazer desejar desaparecer no banco.
Quando desligou, jogou o celular no banco com um suspiro impaciente. A tensão dentro do carro piorou. Eu quis perguntar o que estava acontecendo, mas a pergunta morreu na minha garganta. Talvez fosse melhor não saber.
A estrada começava a clarear. Tons azulados despontavam no céu