Ele se afastou e se jogou com preguiça em uma poltrona gasta no canto do quarto. Cruzou os braços, fechou os olhos e ficou ali, calado. Um silêncio denso e desconfortável se instalou entre nós. Eu continuei rígida, de olhos abertos, ouvindo os próprios batimentos acelerados, até que a exaustão finalmente venceu. E dormi.
**
Acordei com o barulho de embalagens sendo abertas e um cheiro morno de comida caseira no ar. A luz do dia filtrava-se pelas cortinas encardidas. Tentei me sentar, ainda tonta, e vi que ele estava encostado na parede, mastigando, com uma das pernas cruzadas.
— Dormiu bem? — perguntou, como se fôssemos velhos conhecidos.
— Que horas são? — murmurei, com a garganta seca.
— Pouco depois das dez. Você dormiu feito pedra. — Ele enfiou outra garfada de comida na boca.
Meu estômago embrulhou. A lembrança da noite anterior caiu sobre mim como um cobertor molhado. Tudo parecia irreal. O quarto barato, o tom casual dele, o cheiro de comida pronta.
Ele estendeu uma embal