Mas o medo não diminuía. Meu pai. Se ele descobrisse… Deus. Ele descobriria tudo.
Ele não era burro. Ligaria os pontos. Veria que eu não era mais virgem. Que eu menti. Que toda a imagem perfeita da filha santa, da freira devota, era só uma fachada frágil. Ele não gritaria. Não. Ele me olharia com aquela frieza disfarçada de piedade. Como sempre fez.
Como quando eu comi mais do que devia. Quando menstruei cedo demais. Quando questionei passagens da doutrina. Quando não fui o bastante.
A náusea voltou, não pelo estômago, mas pela alma.
Levantei com esforço e fui até a pia. Joguei água no rosto. Encarei meu reflexo. A mulher ali parecia mais velha. Mais real. Despida de todas as camadas de obediência, fé e sacrifício.
As pessoas vão dizer que é um filho do pecado… Talvez digam. Talvez pensem isso para sempre. Mas eu sabia da verdade.
Ele era meu filho. Filho do homem que eu amava mais do que deveria. Mais do que podia. Mais do que era permitido.
Deitei na cama, de lado, encolhida