Carol
A carta ainda estava sobre a mesa.
Fechada. Intacta.
Duas semanas haviam passado desde aquele almoço maldito.
Desde que a verdade caiu como vidro estilhaçado no meio do peito.
E mesmo assim, eu ainda estava aqui, vivendo como se tudo estivesse sob controle.
Trabalhando. Respondendo e-mails.
Sorrindo quando preciso e dizendo “sim, doutor” com a entonação exata.
Mas hoje…
Hoje algo pesava mais do que de costume.
O apartamento estava escuro.
Só a luz da varanda acesa, uma meia taça de vinho abandonada na mesinha de canto, e meu corpo largado no sofá como quem se encolhe pra caber em si mesma.
A carta me olhava como um espelho.
Eu tentei ignorar.
Mas minha curiosidade sempre foi minha maldição favorita.
Peguei o envelope devagar.
Os dedos tremiam.
Rasguei a aba com cuidado, como se estivesse abrindo algo que ainda pulsava.
“Carol,
Não sei se você vai me perdoar algum dia. E entendo se não quiser.
Mas acredite: acompanhar sua vida de longe foi a única forma que en