Mundo ficciónIniciar sesiónEle era tudo o que ela foi criada para evitar. E, ainda assim, era impossível resistir. Ana Luísa cresceu em um mundo onde regras vinham antes de desejos. Rica, educada e cercada de expectativas, ela jamais imaginou se envolver com alguém como Cayo — um homem misterioso, impulsivo e tão intenso quanto perigoso. O primeiro encontro foi um desastre. O segundo, uma faísca. E depois disso, nada mais foi como antes. Contra a vontade da família, das aparências e até da razão, Analu mergulha em um amor que ameaça destruir tudo que ela conhece... ou revelar quem ela realmente é. Mas amar alguém como Cayo nunca viria sem consequências.
Leer másAnalu
As pessoas costumam dizer que eu tenho tudo. E, pra ser honesta, às vezes, eu também acho que tenho. Sou filha única de um empresário milionário do ramo de construção civil e de uma ex-modelo que agora passa os dias ocupada demais com jantares beneficentes e clínicas de estética. Cresci entre aulas de balé, inglês, francês e etiqueta — como se minha vida fosse uma preparação para ser... perfeita. Meu nome é Ana Luísa Bernardes, mas todo mundo me chama de Analu. Tenho 18 anos recém-completados, e este deveria ser o melhor verão da minha vida: o último antes da faculdade, sem pressão, sem rotina escolar, sem listas de leitura obrigatória. Só liberdade e sol. Mas, sinceramente? Estou entediada. Profundamente entediada. Acordo todos os dias por volta das nove. Nunca antes — dormir demais é considerado preguiça por aqui. A cama king size tem um jogo de lençóis de linho italiano que minha mãe escolheu e nunca me deixa trocar por algo comum. Meu quarto tem tons de branco, dourado e bege, e uma janela enorme de vidro com vista para a piscina e para o jardim simétrico que meu pai faz questão de manter “como nos filmes”. Levanto agora, calço uma pantufa fofa da Dior que ganhei de aniversário, amarro o cabelo num coque bagunçado e caminho até o meu banheiro de mármore, onde escovo os dentes olhando para meu reflexo: Pele clara, olhos azul-acinzentados, cílios longos que nunca precisaram de alongamento, nariz fino (graças à genética da mamãe), e lábios naturalmente rosados. Meu cabelo é liso, bem loiro, daquele tipo que parece que sai de salão mesmo quando só lavei com shampoo. Não gosto de me gabar, mas aprendi desde cedo que aparência conta — e a minha sempre foi uma espécie de passaporte. Para elogios. Para aprovação. Para o mundo que meus pais me prepararam. Depois do banho, visto um short branco e uma regata rosa clara. Leve, confortável, delicada. Tudo o que esperam de mim. Desço para o café da manhã. A mesa já está posta por Clara, a empregada que trabalha aqui desde que eu tinha sete anos. Ela sempre coloca meu suco preferido — laranja com acerola — e pães integrais com requeijão sem lactose. Minha mãe costuma dizer que é importante manter a forma, e que "nenhum vestido de gala perdoa um quadril largo". — Bom dia, dona Analu — diz Clara, com aquele sorriso de quem me conhece melhor que minha própria família. — Bom dia, Cla. Cadê todo mundo? — Seu pai saiu cedo pra reunião e sua mãe foi ao spa. Deixaram beijos. É sempre assim. A casa tem seis quartos, três salas, uma varanda gigantesca, e parece vazia a maior parte do tempo. Depois do café, caminho até a piscina com um livro nas mãos. Orgulho e Preconceito. Eu já li umas quatro vezes, mas continuo amando a Elizabeth Bennet e sua coragem de ser diferente. Às vezes, imagino como seria ser como ela. Dizer o que penso, quebrar regras, não ligar para a opinião dos outros. Mas então me lembro que, no meu mundo, até um simples “não quero ir” é respondido com silêncio e olhares de reprovação. Enquanto leio, meu celular vibra. É uma mensagem no grupo das meninas: 📲 Mari: Praia hoje? O Rafael vai levar os amigos do primo de novo 😏 📲 Bia: Quero! Se for na casa dele de Búzios, tô dentro. 📲 Lú: Analu, vai? Suspiro. Essas são as amigas que sempre estiveram comigo, mas que nem sempre sabem quem eu sou de verdade. Todas ricas, todas bonitas, todas parecendo viver num reality show disfarçado de vida perfeita. Mas é o que tenho. E negar seria levantar suspeitas. 📲 Eu: Tô dentro. Passo na casa da Lúcia às 14h? A resposta vem em segundos, cheia de emojis e empolgação. Subo, escolho um biquíni branco com detalhes dourados, e coloco uma saída de praia daquelas que valem mais que o salário mínimo. Me olho no espelho por um instante e me pergunto: será que algum dia vou poder me vestir como eu quiser, sair com quem eu quiser, ser... só eu? Desço com a bolsa de praia no ombro e, antes de sair, escuto a voz da minha mãe vindo do alto da escada: — Analu, querida! Vai sair assim? Não esquece o protetor solar. E, por favor, nada de fotos comprometedoras com rapazes. Você sabe que seu pai tem reputação a zelar. — Eu sei, mãe. Fica tranquila. Ela sorri, satisfeita por eu continuar sendo a boneca que ela criou. E eu sorrio de volta, fingindo que ainda me encaixo no molde de perfeição que ela criou. O carro já está me esperando. O motorista, Silvio, me leva até a casa da Lú. Durante o caminho, fico olhando pela janela, vendo as ruas da Zona Sul se misturarem entre prédios luxuosos e algumas vielas escondidas com morros ao fundo. Às vezes me pergunto quem vive nessas casas simples. Quem são as pessoas que não frequentam os mesmos lugares que eu, que não se importam com aparências e que têm histórias de verdade pra contar. E é nesse exato momento — num cruzamento qualquer — que vejo alguém atravessando a rua. Não sei o nome dele. Nunca vi na vida. Mas ele chama minha atenção. Camiseta preta, jaqueta de couro, acessórios em prata, calça jeans surrada e rasgada, all star pobre de tão sujo, cabelo bagunçado e escuro, barba por fazer e uma expressão que mistura desprezo com despreocupação. Ele caminha devagar, tragando um cigarro como se o mundo ao redor não existisse. Tem algo nele que parece perigoso... e ao mesmo tempo hipnótico. Ele nem olha pro carro. Mas eu olho pra ele. Por alguns segundos a mais do que devia. O motorista nem percebe, continua o trajeto enquanto eu me ajeito no banco e tento apagar aquele homem da minha cabeça. — Pronto, dona Analu — diz Silvio, abrindo a porta. — Obrigada, Silvio. Pode me buscar só amanhã de manhã. Desço com o coração um pouco acelerado, o que é ridículo. Foi só um desconhecido na rua. Um cara qualquer. Um ninguém. Mas, por algum motivo, eu senti. Como se a vida — essa vida toda controlada, previsível, linda demais pra ser real — estivesse prestes a... mudar. E eu nem faço ideia do quanto.AnaluEu tava tentando seguir minha vida como se nada tivesse mudado. Como se o Cayo não tivesse bagunçado tudo com aqueles beijos, aqueles toques, aquele jeito dele de me olhar como se pudesse ver a Analu que eu escondo de todo mundo. Mas quem eu tava enganando? Cada vez que eu fechava os olhos, era ele que eu via. A cicatriz na sobrancelha, o sorriso torto, a voz rouca me chamando de "princesa".Meu mundo perfeito — com lençóis de linho italiano, jantares beneficentes e o Humberto com suas camisas polo — parecia mais vazio do que nunca. Eu queria ele. O Cayo. E isso me aterrorizava.Na quarta-feira, enquanto eu tomava café da manhã na mesa de mármore da nossa casa, meu celular vibrou. Meu coração deu um pulo antes mesmo de eu ver o nome na tela. Era ele. A mensagem que eu tava esperando, mas que, ao mesmo tempo, me dava um frio na barriga.📲 Cayo: E aí, princesa, gosta de rock? Esse fim de semana vai ter um show em um barzinho de uma banda local que eu tô curtindo e gostaria de
CayoPorra, eu tô na merda. Tô na merda e sei disso. A loirinha, a Analu, tá cravada na minha cabeça como um prego que não sai, e eu não consigo parar de pensar nela. No beijo na boate, no jeito que ela riu contra minha boca, no calor do corpo dela colado no meu. Foi como se, por um segundo, eu fosse mais que o Cayo da quebrada, mais que o cara que rala como motoboy e vive com o dinheiro contado. Mas aí a realidade bate, e eu sei: ela é de outro mundo. Uma patricinha que vive em mansão, com motorista e pais que nunca aceitariam um cara como eu. E mesmo assim, eu tô apaixonado. Apaixonado pra caralho. Já era.O domingo amanheceu com aquele calor pegajoso do Rio, o tipo que faz a camiseta grudar na pele antes mesmo de você sair de casa. Eu tava no meu canto, no quartinho apertado com paredes descascando, o ventilador velho girando preguiçoso no canto. O Zyon tava comigo, finalmente. A Gabi deixou ele passar o dia em casa, já que a febre dele tava controlada. Meu moleque tava deitado n
AnaluEu não conseguia respirar direito. O segundo beijo na boate, com o Cayo me puxando pela cintura, os lábios dele descendo pro meu pescoço, a mão dele apertando minha bunda com aquela pegada de malandro... foi demais. Demais pra mim, demais pro meu mundo certinho, demais pra tudo que eu fui ensinada a ser. Meu corpo ainda tremia, mesmo depois de me afastar dele na pista de dança, com o coração batendo tão forte que parecia que ia explodir. Eu voltei pras meninas, tentando fingir que tava tudo bem, que eu era a mesma Analu de sempre, mas por dentro? Por dentro, eu tava em pedaços. Ele tinha me desmontado com aquele beijo, com aquele toque, com aquele jeito de quem sabe exatamente o que quer.— Analu, que beijo foi aquele? — perguntou a Mari, com um sorrisinho malicioso, enquanto a gente voltava pra nossa mesa. Ela tava com uma taça de champanhe na mão, o cabelo meio bagunçado de tanto dançar. — Você e o motoqueiro? Meu Deus, parecia que tavam prestes a pegar fogo na pista!Eu for
CayoA semana foi uma correria do caralho. Depois de voltar de Angra, com o Zyon doente e a Gabi me enchendo o saco, eu mergulhei no trampo como se minha vida dependesse disso. E, na real, dependia mesmo. Ser motoboy no Rio é tipo correr uma maratona todo dia, só que com o sol torrando a nuca, no trânsito o povo te xingando e o celular apitando com pedido atrás de pedido. Entreguei de tudo: documento no Centro, almoço em Copacabana, remédio em Botafogo, até um bolo de aniversário em Ipanema pra uma festa de criança cheia de balão e palhaço. O ronco da minha moto era meu parceiro, e o vento na cara era a única coisa que me mantinha são.O Zyon, graças a Deus, melhorou. Na segunda à noite, quando passei na casa da Gabi pra ver ele, o moleque tava rindo, correndo pela sala com uma bola de futebol que eu comprei na promoção. Ele veio correndo, me abraçou com aquelas mãozinhas suadas e gritou: — Pai, tu é o melhor pai do mundo! Olha como eu chuto forte!Eu ri, baguncei o cabelo dele e me
AnaluDe volta ao Rio, a vida parecia querer me enfiar de novo no molde perfeito que meus pais construíram. O fim de semana em Angra tinha sido... diferente. Intenso. Bagunçado. Eu voltei com o coração acelerado, a cabeça cheia de pensamentos que eu não deveria ter. O Cayo. Aquele motoqueiro com cheiro de gasolina e cigarro, com aquele olhar que parecia me desmontar peça por peça. O beijo no quiosque ainda queimava nos meus lábios, mesmo dias depois. Eu tentava apagar, fingir que não tinha acontecido, que era só um momento de fraqueza. Mas quem eu tava enganando? Toda vez que fechava os olhos, via ele. A cicatriz na sobrancelha, o sorriso torto, a mão firme no meu rosto. E, droga, eu queria mais.Era sábado à noite, e eu precisava me distrair. Precisava voltar pro meu mundo, pras coisas que faziam sentido. Nada de motoqueiros, nada de confusão. Só a vida que eu conhecia: luxo, risadas, aparências. Combinei com as meninas de sempre — Mari, Bia e Lú — de ir pra uma balada chique no Leb
CayoA noite na praia foi um caos daqueles que a gente curte, mas que deixa um vazio estranho depois. O som tava alto, um funk daqueles que faz o chão tremer, misturado com pagode e umas batidas eletrônicas que o Dj colocou na caixa de som. A praia tava lotada, com galera dançando, bebendo, fumando, rindo alto. As amigas da Analu tavam lá, se jogando com os meus manos como se fossem de casa.A Mari tava colada no Léo, rebolando com ele como se não tivesse amanhã. A Bia tava rindo das palhaçadas do Juninho, que já tava meio bêbado e contando história de quando quase foi preso por pular catraca no ônibus. E a Lú, que parecia a mais tímida, tava lá no canto, trocando beijo com o Vitinho como se fosse adolescente apaixonada. Eu? Eu tava lá, com uma cerveja na mão, um beck no bolso, tentando entrar na vibe. Mas, porra, minha cabeça tava em outro lugar. Na Analu. Na loirinha metida que não apareceu na festa. A Mari até jogou um comentário, dizendo que ela ficou na casa com o tal do Humbert
Último capítulo