Fiquei sentado na beira da cama por longos minutos depois que a porta bateu. A cabeça latejava, o rosto queimava no lugar das bofetadas, mas nada doía mais do que as palavras que ele deixou para trás.
Vergonha.Essa palavra grudou na minha pele como se fosse tatuagem. Cada canto do quarto gritava isso pra mim: o cheiro de álcool, os restos da noite passada espalhados pelo chão, o corpo pesado demais para se mover.Levantei com dificuldade, tropeçando até o banheiro. Liguei a torneira e joguei água fria no rosto. O espelho devolveu a imagem de um estranho: olhos vermelhos, fundos, pele pálida, marcas da noite e da ressaca. Um pedaço de nada.A porta rangeu atrás de mim.— Tá inteiro ainda? — a voz de Léo quebrou o silêncio, carregada de deboche. Ele se encostou no batente, de braços cruzados, com aquele sorriso cínico que sempre me dava vontade de socar. — O velho pegou pesado, hein?Não respondi. Só continuei encarando o reflexo racha