O frio do chão de cimento atravessava meu corpo como lâminas.
As correntes nos pulsos estavam apertadas o suficiente para cortar a pele, e o cheiro do quarto úmido misturava ferrugem com mofo.
A escuridão era quase total, exceto pela lâmpada fraca balançando no teto, chiando como se zombasse de mim.
Eu não sabia quanto tempo havia passado desde que apaguei na cobertura. Horas? Um dia inteiro? O tempo se dissolvia entre dor e incerteza.
E então ouvi o som de saltos ecoando no corredor.
Ana, claro que era ela.
A porta se abriu devagar, revelando sua silhueta recortada pela luz. Vestia vermelho. Sempre impecável, sempre teatral.
— Bom dia, mana. — A voz dela gotejava veneno. — Dormiu bem?
— Vá para o inferno. — cuspi, mesmo com a boca seca.
Ela riu, aproximando-se como quem visita uma obra de arte em exposição.
— O inferno? Não, Joana. O inferno é aqui. E adivinha? Você é a atração principal.
Ana se abaixou até ficar à minha altura. Os olhos dela eram um espelho cruel: sem piedade, sem