A madrugada estava carregada.
Dentro do carro, eu sentia cada solavanco na pele. O colete pesava sobre o peito, mas não era nada perto do peso no coração.
Rafael estava ao meu lado, silencioso, mas o silêncio dele era um sinal de alerta do perigo que nos esperava. O maxilar travado, os punhos cerrados sobre as pernas.
— Você não precisa ir. — ele disse, sem me olhar.
— Preciso. — respondi. — Porque essa guerra é minha também.
Ele suspirou, mas não insistiu. Sabia que eu não recuaria.
Atrás de nós, os homens armados ajustavam carregadores, checavam rádios. O cheiro de pólvora impregnava o ar mesmo antes do primeiro tiro.
O comboio parou a duas quadras do armazém. A zona leste era um deserto de ferro e concreto abandonado.
O irmão mais novo dos Santos desceu primeiro, analisando a área com binóculos térmicos.
— Há movimento. Guardas no perímetro. — murmurou. — Dez, talvez quinze. Mas pode haver mais dentro.
Rafael olhou para mim.
— Preciso que você fique muito atenta, se lembre que não