Assim que o primeiro raio de sol atravessou as pesadas cortinas do quarto, o celular de Dante vibrou com o alarme habitual sobre a mesinha de cabeceira. O som era suave, programado para não ferir os ouvidos — como tudo que envolvia sua rotina meticulosa. Sem sequer olhar o visor, ele esticou o braço e desligou o aparelho com um toque automático, permanecendo deitado, os olhos fixos no teto acima de si.Aquela manhã, diferente das outras, não lhe trouxe paz.Seu peito pesava com estratégias e pensamentos que giravam ao redor de um único nome: Alejandro.Não podia continuar escondido, esperando o próximo golpe. Isso não era do seu feitio. Ele precisava agir. Atacar. Mostrar quem era o verdadeiro predador naquele território. Mas como?Se levantasse demais o véu, se tornaria alvo. Se ficasse quieto demais, daria espaço para que Alejandro crescesse como erva daninha em seu quintal. Dante precisava encontrar o ponto exato entre a ameaça velada e o caos cuidadosamente orquestrado. A simulaçã
Elena tomou banho o mais rápido que pôde, sentindo a água escorrer por sua pele como se quisesse lavar também a inquietação que a dominava. Seu coração batia acelerado, impulsionando-a para fora daquele quarto sufocante — e ainda mais para o reencontro tão aguardado com sua irmã.Ao sair do banheiro, ela se aproximou da porta de vidro, coberta precariamente por sacos de lixo presos sobre o buraco na vidraça. Espiou através das frestas improvisadas e se deparou com um espetáculo quase cruel: o céu de um azul impecável, límpido e sem nuvens, contrastando com a tempestade que rugia dentro dela. Pássaros cortavam o ar em revoadas frenéticas, como se zombassem de sua prisão. Mais abaixo, o jardim se estendia vibrante; as peônias balançavam sob a carícia morna da brisa, exalando um aroma doce e quase entorpecente que não conseguia atravessar a barreira de vidro, mas que sua imaginação parecia captar.Ao longe, o som das ondas quebrando contra as pedras trazia uma melodia áspera, revoltada,
Aquela ligação era tudo o que Dante queria — um convite à guerra disfarçado de desespero. O plano seguia perfeitamente. Os vídeos forjados de Elena em um cativeiro obscuro tinham surtido o efeito esperado: Alejandro estava à beira do descontrole.Mas Dante queria mais. Sempre queria mais.Não se importava, de fato, com seu secretário, Demétrio. Era apenas uma peça no tabuleiro, facilmente sacrificável. O único motivo de ainda não tê-lo descartado era o elo invisível que o ligava a Dimitri, o irmão gêmeo de Demétrio — o único homem por quem Dante nutria algo próximo de apreço.Dimitri havia salvado sua vida num momento em que a maioria correria. Arriscou tudo por ele. Esse tipo de coragem Dante não esquecia. E, embora não demonstrasse, era grato.O ambiente ao redor exalava poder e silêncio. As paredes altas, cobertas por cortinas escuras, abafavam o som do mundo. Um abajur de vidro antigo, de tom âmbar, projetava sombras dançantes sobre os móveis imponentes do quarto. O ar era denso,
O estrondo dos tiros rasgou o ar, misturando-se aos gritos apavorados que ecoavam pela boate. O desespero tomou conta do ambiente, pessoas corriam em todas as direções, esbarrando umas nas outras, derrubando mesas e copos no chão. Luzes piscavam freneticamente, criando sombras fantasmagóricas que tornavam a cena ainda mais caótica. No palco, Elena estava encolhida no chão, escondida atrás da mesa de DJ que, até poucos segundos atrás, vibrava ao som da sua música eletrônica. Seu coração martelava contra o peito, um tambor incessante de puro pavor. O ar cheirava a pólvora e suor. Com as mãos trêmulas, ela tentava inutilmente esconder a cabeça, como se pudesse se tornar invisível. Então, de repente, um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Elena prendeu a respiração. O medo a consumia por completo, seus músculos estavam rígidos, incapazes de reagir. O que aconteceria agora? O silêncio foi quebrado por passos firmes e cadenciados, ressoando no piso como se pertencessem a um p
Quando abriu os olhos, Elena sentiu o impacto do frio em sua pele. O chão duro sob seu corpo era úmido, e um cheiro nauseante tomava o ar, fazendo seu estômago revirar. Ela piscou algumas vezes, tentando se ajustar à escuridão opressora que a cercava. Seu primeiro instinto foi se levantar, mas o movimento repentino trouxe uma onda de tontura. Ainda assim, forçou-se a ficar de pé, os joelhos trêmulos. O coração acelerou ao perceber o que a rodeava: três paredes sólidas e uma cela de barras de ferro à frente. Uma prisão. O pânico a impulsionou para frente. Ela correu até as grades e agarrou o ferro frio com as mãos suadas. Do outro lado, um corredor estreito e mal iluminado se estendia diante dela. À esquerda e à direita, havia mais celas. Vazias. Todas vazias. — Socorrooo! — Elena gritou, sua voz ecoando pelo espaço sombrio. O silêncio que veio em resposta a fez se sentir patética. Claro que ninguém viria. Claro que quem a jogou ali não deixaria ajuda por perto. Ela tentou de novo
D ante estava à beira da exaustão, sua mente afiada como a lâmina do machado que empunhava, mas o seu interior continuava em frangalhos, dilacerado pela raiva e pelo descontrole que ele mesmo havia permitido. Ele olhava para o machado, uma extensão de sua própria raiva, e podia quase sentir o peso de seus próprios fracassos se refletindo no metal escuro. O protocolo já estava em andamento, as mulheres do Egito seriam transportadas em breve, divididas em três partes, uma operação arriscada que ele não podia deixar falhar. Mas a cabeça dele estava longe disso, perdida em um emaranhado de frustração e um desejo urgente de vingança contra a incompetência de seus subordinados. Eles haviam traído sua confiança, e agora ele precisava retomar o controle, mostrar quem comandava ali. Ele se levantou, ainda com o machado em mãos, e foi até a mesa onde deixara sua máscara. Aquele objeto, que o distanciava de sua humanidade, era o último passo antes de se transformar no que ele precisava ser: um
Enquanto isso, Demétrio quase precisou pegar Elena nos braços. A loira, ainda tomada pelo choque, tinha as pernas bambas, tremendo incontrolavelmente, enquanto as lágrimas corriam livremente por seu rosto. Com a vida difícil que levou desde a infância, ela já havia sido testemunha de muitas atrocidades, mas nada se comparava àquele ato repulsivo diante de seus olhos. Ao ser trancada novamente na cela, ela se arrastou até a parede, onde se encolheu, balançando o corpo para frente e para trás, num movimento quase automático. Era como se tentasse se acalmar, como se aquele balançar frenético fosse uma tentativa de afastar a realidade daquele lugar. Agora, mais do que nunca, temia o tal Dom Mascarado, assim como todos aqueles que ouviam seu nome em sussurros. E não era para menos. Dante não tinha piedade. Ele era implacável, um monstro que se escondia atrás de uma máscara. Mas ela sabia, de alguma forma, que todos nessa vida tinham um ponto fraco. Algo guardado nas profundezas do coração
Dante estava sentado em sua cadeira, a postura imponente e firme, uma demonstração clara de seu poder. A máscara, como sempre, escondia seu rosto, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade ameaçadora. Ele não precisava dizer uma palavra para que qualquer um soubesse o que ele representava. O silêncio pesado no ambiente era quebrado abruptamente pela porta, que se abriu de forma brusca, revelando Firmino. O homem entrou, ganhando imediatamente a atenção de seu Dom. Firmino não pôde deixar de notar a arma sobre a mesa. Ele sabia que aquilo não era apenas um objeto qualquer — era um aviso silencioso, uma mensagem do quanto Dante estava furioso. Os dois se conheciam desde pequenos, e Firmino já havia sido ameaçado diversas vezes por Dante, mas essa era a segunda vez que via a arma do amigo sobre a mesa. A primeira foi no dia da grande tragédia. — O que estava pensando quando trouxe aquela mulher para a cela? — Dante se levantou de repente, seu corpo rígido com raiva, e encarou Firmin