Capítulo 3

— Alô, você está aí? — a voz dele volta, firme.

Ainda ajoelhada na calçada, respondo rápido:

— Sim! Sim, estou. E aceito. — disparei, sem respirar, como se ele pudesse mudar de ideia a qualquer segundo.

— Certo. Venha amanhã, às... — começa, mas interrompo sem pensar:

— Posso começar agora. — Me adianto. — Assim você economiza tempo me explicando tudo hoje. Imagino que seja um homem ocupado.

Mordo o lábio. O desespero transbordando na voz. Eu sabia. Sabia que parecia desesperada... Porque estava. A verdade? Não tinha onde dormir. Aquele emprego era meu único plano. Morar ali já resolveria metade do meu problema — ou, no momento, o problema: não ter um teto.

O silêncio dele me faz gelar. E se ele mudasse de ideia? Só volto a respirar quando escuto, seco:

— Ok. — E desliga.

Fico olhando pro celular, atônita. Foi fácil... até demais. Mas não ia reclamar.

Recolho minhas coisas molhadas da calçada e pego um táxi, usando os últimos trocados.

De novo, parada diante daquela mansão, suspiro. Última ficha jogada.

— Deixe-me ajudá-la. — o mesmo mordomo aparece e pega minhas malas. — Levarei para seu quarto. O senhor Barrichello a espera. — E some.

Meu corpo inteiro vibra de nervoso enquanto caminho até a porta. A sala, enorme e impecável, parece ainda mais intimidadora agora.

Ele surge no corredor. Alto. Imponente. Rosto impassível. Olhar frio, cravado em mim. Não diz nada, apenas se vira e entra no escritório.

Entendo aquilo como “entre”. E obedeço. Fecho a porta, tentando fingir que não estou prestes a ter um colapso.

— Então... estou pronta. Diga tudo que preciso saber. — forço um sorriso, me esforçando pra parecer no controle.

Ele me olha de cima a baixo, depois aponta com os olhos pro sofá. Sento.

O escritório é exatamente como ele: sóbrio, rígido, impecável... e frio.

— Antes de tudo, senhorita Green... — sua voz preenche o ambiente, firme, intransigente — preciso deixar algo claro: minha filha é meu bem mais precioso. Não admito erros. Nenhum.

Engulo seco.

— Compreendo, senhor Barrichello. Sua filha estará em boas mãos.

Ele não reage.

— Espero que sim. — E começa. — Primeira regra: rotina. Ela tem horários. Não admito atrasos, nem mudanças. Segunda: qualquer problema de saúde, mínimo que seja, me avisa imediatamente. Entendido?

— Perfeitamente. — Tento soar firme.

Ele segue. Mais regras. E mais. E mais. Uma sequência infinita, como se estivesse contratando uma agente da CIA, não uma babá.

— Por ora, é isso. — encerra, seco. — Seu quarto é anexo à casa. Fale com Gomes se precisar.

Me levanto, sustento o olhar dele, e solto, sincera:

— Cuidarei da sua filha com todo meu empenho. Ela estará segura e feliz comigo.

Por um segundo — um único segundo — vejo algo quase... humano no olhar dele. Quase um sorriso. Mas some rápido demais pra ter certeza.

Dou meia-volta. Mas paro. Preciso perguntar. Não dá pra engolir isso.

Respiro fundo, viro, e encaro aquele olhar gélido.

— Se me permite... — começo — por que me escolheu? Havia candidatas mais... qualificadas.

Ele arqueia uma sobrancelha, como se a pergunta o surpreendesse.

— Minha decisão não se baseou apenas em currículos. — responde, firme. — Foi... um instante fugaz que me fez decidir.

— Um instante fugaz? — repito, desconfiada.

Ele se inclina levemente, voz baixa, certeira:

— Da janela, vi quando você ajudou minha filha. Vi como ela sorriu pra você. Foi genuíno. E raro.

Fico em silêncio. A lembrança daquele momento vem, clara. Mas nunca imaginei que... ele estava observando.

— Me perdoe, mas... — ajeito-me, desconfortável — não entendo como isso pode ser decisivo pra algo tão sério.

Ele sustenta meu olhar, inabalável. E então sua voz sai, carregada de aviso:

— Você não entende agora, senhorita Green. Mas entenda uma coisa: assim como te escolhi, posso te dispensar no primeiro sinal de erro.

Sinto um frio na espinha. O ar pesa. Mas não vou recuar.

— Entendo perfeitamente. — respondo, firme. — Aceito o desafio.

Ele me observa por segundos que parecem horas. Até que seus lábios curvam, quase imperceptíveis. Frio. Enigmático.

— Veremos. — E só isso. — Aqui não há espaço pra erros.

E foi assim que, naquela sala carregada de tensão, começou meu novo trabalho.

Um emprego pra cuidar de uma criança.

Sendo que... eu nunca cuidei de uma na vida.

— Meu Deus... o que eu tô fazendo? — sussurro pra mim mesma, encarando meu reflexo no vidro da porta.

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