Arco Amanda
Amanda acordou com o barulho da chaleira apitando. Por um instante, pensou que era a mãe chamando para o café, como fazia quando ela era criança em Manps, batendo a colher na xícara com impaciência. Mas não. Estava sozinha. A chaleira só gritava porque ela havia esquecido de desligar o fogo.
Desceu da cama devagar. O quarto cheirava a roupa suada, guardada tempo demais sem ser lavada. No chão, duas garrafas de vinho vazias, uma taça com restos ressecados no fundo. A cortina mal fechava, deixando a luz cinza da manhã invadir sem piedade.
Virou a água fervida dentro de uma caneca qualquer, sem colocar nada. Só água quente. A sensação era de que precisava de algo que queimasse a garganta. Sentou-se na beirada da mesa da cozinha, observou a parede, uma linha escura de mofo atravessando-a perto da janela.
Ali, no silêncio, o mundo parecia se arrastar. Não havia televisão ligada, não havia música. Só o som da respiração dela e, de vez em quando, o barulho da rua, uma moto acele