Meses depois...
Andrea tinha o costume de ficar encostada na janela da sala, mesmo depois que o médico recomendou que não passasse muito tempo em pé. A vista não era nada de especial, a rua estreita de paralelepípedo, o barulho dos ônibus que subiam a ladeira, os meninos da vizinhança jogando bola com uma meia velha. Estava gostando da nova cidade. Mas para ela, aquela moldura era vida. Ficava ali, sonhando com o impossível: as duas filhas juntas outra vez, rindo na mesma mesa.
Naquele fim de tarde, Ayla chegou de surpresa. Entrou sem cerimônia, como quem pertence àquele espaço. Carregava nas mãos um envelope branco dobrado, e o sorriso dela iluminava a sala. Andrea sentiu o coração bater diferente. Não era só alegria, era também uma pontada de dor: Ayla parecia cada vez mais parecida com ela quando jovem, só que com a força que ela nunca tivera.
— Mãe, sente aqui comigo — Ayla puxou uma cadeira, espalhando papéis na mesa. — Quero te mostrar uma coisa.
Andrea obedeceu. O corpo já não