Na certidão, estava escrito: filha de Edgar e Deisi. No papel, Ayla ganhou sobrenome, teto e sobrenaturalmente até respeito. Mas nenhum desses nomes cabia no corpo pequeno que ela carregava. Não havia abraço, não havia perfume de colo. Só roupa alinhada, cabelo penteado, postura rígida nas fotos.
A casa não era lar. Era vitrine.
O corredor tinha cheiro de cera de madeira, os degraus sempre polidos pela diarista que Deisi contratava. Na sala, os sofás de couro brilhavam, cobertos de plástico nos dias em que não havia visita. As fotos nas paredes mostravam Diana e Cinthya sorrindo em vestidos brancos, laços combinando, Deisi atrás delas com a mão pousada no ombro. Ayla também aparecia em algumas, enfiada à força no retrato, sempre no canto, sempre com expressão incerta.
A diferença era clara até nos gestos mínimos. Diana podia correr para o colo da mãe e receber um beijo distraído. Cinthya caía no chão e Deisi corria com pano úmido para limpar o machucado. Ayla, quando chorava, recebia