O som da risada de Ayla corria pela casa, leve, solto, como se escapasse sem pedir licença. Deisi estava na cozinha, arrumando a mesa do jantar. Cada riso que vinha do quarto das meninas era uma navalha na pele. As mãos dela batiam os pratos com força sobre a toalha branca. Os talheres faziam barulho agudo demais.
“Como ela ousa ser feliz?”, pensava, cerrando os dentes, enquanto ajeitava o guardanapo de pano com movimentos duros.
Na sala, Edgar fingia ler o jornal. O papel subia e descia levemente, a cada respiração impaciente. Por trás da folha, escondia o mesmo incômodo. Não precisava olhar para a esposa: os dois sabiam. A menina não era filha, era lembrete. Lembrete da amante, da fraqueza, da vergonha que a cidade teria jogado na cara deles se não tivessem tomado para si a história.
E como se não bastasse existir, ainda ria.
Eles nunca admitiriam em voz alta. Então disfarçavam a raiva com silêncio. Mas havia um pacto nos olhares trocados: Ayla jamais seria amada.
Foi numa tarde aba