Arco 3 – Os Pais Adotivos (Cap. 13–16)
O retrato da família ficava na sala principal, pendurado entre a estante de livros nunca abertos e a cristaleira cheia de copos que ninguém usava. Na foto, eles sorriam. Um sorriso torto, forçado, registrado no dia da posse dele como vereador daquela cidade. A casa vivia de fachada, como se cada móvel e cada gesto tivesse sido montado para visita de gente importante.
O casamento já era uma mentira há muito tempo.
Ele, Edgar Green, passava noites inteiras fora, sempre com a desculpa de reuniões, jantares, compromissos políticos. Voltava com cheiro de uísque barato e perfume feminino grudado na camisa. Ela, Deise, aprendeu cedo a fingir que não percebia. Odiava a humilhação, mas odiava mais ainda a ideia de perder a posição de “senhora de político”. Tinha orgulho frio, daquele que não aquece ninguém, só protege como armadura.
No bairro, todo mundo sabia das escapadas dele. A cidade era pequena, a fofoca corria mais rápido que carro na avenida centr