O portão da casa abriu com aquele rangido irritante que nunca consertavam. Bianca desceu do carro ajeitando a alça da bolsa no ombro, o salto afundando um pouco no cascalho da entrada. A fachada iluminada, imponente, parecia sempre maior quando ela voltava sozinha. A cada passo, lembrava que aquela não era só uma casa, era uma vitrine.
A empregada abriu a porta e sorriu automático.
— Boa noite, dona Bianca.
O cheiro do molho de tomate vinha da cozinha, mas misturado ao perfume pesado de lavanda que a mãe espalhava em difusores pelos corredores. Um choque de aromas que sempre lhe dava dor de cabeça.
A sala estava cheia. O pai de terno cinza, o copo de whisky já pela metade. A mãe com vestido bege, cabelo preso, colares de pérolas. Dois tios e a tia Isadora, todos espalhados pelo sofá de couro. Quando Bianca entrou, os olhares foram para ela como se estivessem avaliando um cavalo de leilão. A cada encontro de família era igual.
— Demorou. — comentou a mãe, levantando uma sobrancelha.
—