Mundo de ficçãoIniciar sessãoApós um divórcio conturbado com o perigoso Denis, Beatriz tenta reconstruir sua vida, mas é sequestrada pelos capangas de seu ex-marido. Ela é resgatada por Yago, um misterioso morador de rua por quem se apaixona. Quando Denis reaparece, determinado a reconquistá-la, os perigos se intensificam. Após uma série de desafios e traições, Beatriz e Yago redescobrem o verdadeiro valor do amor e da confiança.
Ler maisCapítulo 1
Beatriz caminhava pelas ruas movimentadas do centro da capital de Minas Gerais, perdida em seus pensamentos. O som das buzinas e conversas ao redor se tornava apenas um ruído distante, enquanto a cidade seguia seu ritmo habitual. Sua mente um tanto inquieta não a deixava em paz por um segundo sequer. Desde o divórcio com Denis, há quase um mês, ela vinha lutando incansavelmente para reconstruir sua vida. No entanto, por mais que tentasse, as ameaças de Denis ainda a cercavam, era verdade que estava com medo, mas não tinha muito o que fazer. Ele havia sido tudo em sua vida: marido, amante, e no início, até um salvador. Denis aparecera quando Beatriz estava vulnerável, oferecendo a segurança e estabilidade que ela tanto buscava. Entretanto, com o tempo, essa proteção se transformou em possessividade, em uma prisão. As camadas de carinho foram sendo substituídas por controle, ciúmes e ameaças veladas. Por isso, quando finalmente teve coragem de se libertar, o peso de sua decisão foi imenso. Um divórcio conturbado, repleto de chantagens emocionais e promessas sinistras. Mesmo assim, ela estava determinada a seguir em frente. Beatriz ergueu o queixo, sentindo o vento em sua face, como um lembrete de sua liberdade conquistada. Havia vencido uma batalha difícil e, apesar de ainda se sentir observada, recusava-se a viver com medo. Respirou fundo, tentando se concentrar no presente, no simples prazer de caminhar em direção ao café onde costumava parar antes de ir ao trabalho. Um hábito que estava tentando retomar na busca por um senso de normalidade. Ao se aproximar do café, algo perturbou sua percepção. Um leve arrepio percorreu sua espinha, e seus olhos instintivamente procuraram ao redor, como se à procura de uma ameaça invisível. Antes que pudesse processar o que estava sentindo, o som agudo de pneus freando bruscamente a fez virar a cabeça. O mundo ao seu redor se distorceu em um borrão de caos. Um carro sedan preto surgiu ao lado dela. A porta se abriu com violência e, em questão de segundos, dois homens saíram do veículo. Beatriz mal teve tempo de reagir. Eles se moviam como sombras, rápidos e eficientes. As mãos fortes a agarraram, e o grito que ameaçava escapar de sua garganta foi rapidamente abafado por um pano. Um cheiro doce e sufocante invadiu suas narinas. O pânico tomou conta de seu corpo, mas antes que pudesse lutar ou gritar, seus pensamentos se dispersaram. "Denis..." foi seu último pensamento coerente antes que a escuridão a envolvesse por completo. O corpo indefeso de Beatriz era arrastado para o carro. Os sons da rua, que antes eram apenas um pano de fundo distante, foram engolidos pelo silêncio denso da inconsciência. Tudo parecia perdido. Do outro lado da rua, Yago, um homem esquecido pelas multidões, observava com atenção. Ele passava despercebido em meio ao caos urbano, vestido com roupas gastas e um semblante que revelava histórias que ninguém se interessava em ouvir. Quando os homens saíram do carro e avançaram sobre Beatriz, ele soube instantaneamente que algo estava errado. Eles se moviam com uma precisão que não deixava dúvidas, eram profissionais, frios. Sem pensar duas vezes, Yago agiu não se importando com as consequências de suas ações. Enquanto Beatriz era jogada no banco traseiro do carro, ele correu em direção ao veículo. Seus passos eram rápidos e silenciosos, como os de alguém que aprendeu a se mover sem ser notado. Com uma força surpreendente para um homem de aparência tão frágil, ele agarrou a porta do carro antes que o outro sequestrador conseguisse entrar. O homem se virou, surpreso, mas não teve tempo de reagir. Yago o puxou com um movimento rápido, desequilibrando-o e o jogando contra o asfalto. O outro sequestrador, que já se encontrava no banco do motorista, viu a cena pelo retrovisor e, com um xingamento furioso, tentou acelerar o carro. Mas Yago já estava dentro. Em um movimento ágil, ele arrancou Beatriz dos braços do segundo homem e puxou o freio de mão, fazendo o carro guinchar e parar bruscamente. — Saia daqui agora! — Ele gritou para Beatriz, enquanto empurrava o homem para fora do carro. Beatriz, ainda atordoada pelo efeito da droga, lutava para manter os olhos abertos. Sua mente girava, tentando entender o que estava acontecendo. Mas sua sobrevivência instintiva assumiu o controle. Com as forças que ainda lhe restavam, ela se arrastou para fora do carro, tropeçando e caindo no chão frio da rua. Yago, sem perder tempo, segurou o braço dela, levantando-a com cuidado. — Vem comigo, rápido! — ele sussurrou. Ainda grogue, Beatriz tentou processar o que estava acontecendo, mas o medo e a adrenalina a impulsionaram a seguir aquele homem misterioso. Eles correram, fugindo pelas ruas movimentadas enquanto os sequestradores se recuperavam do choque. Beatriz tropeçava ao longo da calçada, ainda atordoada, enquanto Yago a puxava para longe dos homens que haviam tentado levá-la. Suas pernas estavam fracas, a visão embaçada e o gosto amargo da substância química ainda queimava em sua garganta. Tudo parecia girar ao redor, como se a cidade fosse uma grande pintura distorcida. Eles correram até encontrarem um beco estreito, onde Yago finalmente parou. Suas respirações eram pesadas, e ele encostou Beatriz com cuidado contra a parede de tijolos. Olhou ao redor para se certificar de que não estavam sendo seguidos, antes de voltar sua atenção para ela. — Você está bem? — Yago perguntou. Seus olhos analisavam Beatriz, que ainda parecia perdida. Ela piscou, tentando focar no homem à sua frente. Seu coração disparado dificultava até mesmo falar, mas ela fez um esforço para responder, ainda tentando entender a presença dele. — Quem... quem é você? — Beatriz conseguiu murmurar, com a voz fraca. Sua cabeça latejava e o corpo parecia feito de chumbo. Yago hesitou por um momento, como se a pergunta o pegasse de surpresa. Ele não sabia exatamente o que dizer, então foi direto ao ponto. — Meu nome é Yago — respondeu, afastando uma mecha de cabelo que caíra sobre o rosto dela. — Eu vi o que aconteceu e não podia simplesmente ficar parado. Eles estavam tentando te levar... você sabe quem eram? Beatriz franziu o cenho, lutando contra o entorpecimento que ainda dominava seus sentidos. Denis. Aquele nome ecoou em sua mente, como uma maldição que nunca a deixava. Ela sabia, com uma certeza dolorosa, que o responsável por tudo aquilo só podia ser obra dele. — Denis... — ela sussurrou, sentindo a garganta apertar ao dizer o nome. — Meu ex-marido. Eu sabia que ele não ia desistir. Mas não pensei que ele faria isso... não assim. Yago estreitou os olhos ao ouvir o nome, embora não o conhecesse, podia sentir o peso que essa palavra carregava para ela. Ele se abaixou, ficando de frente para Beatriz, seus olhos castanhos escuros cheios de uma seriedade quase hipnótica. — Você precisa sair daqui — ele disse, sua voz firme e resoluta. — Esses caras... se foram mandados por ele, vão voltar. E você não está segura. Eles te conhecem, sabem seus passos. Beatriz balançou a cabeça, tentando limpar as lágrimas que ameaçavam cair. O desespero começava a tomar conta, e a ideia de que ela nunca estaria realmente livre de Denis parecia sufocá-la. — Mas... para onde eu vou? — Ela olhou para Yago com olhos marejados. — Eu não tenho ninguém... ele afastou todos de mim. Não posso ir para casa, ele vai me encontrar. Yago assentiu lentamente, entendendo o desespero em cada palavra dela. Ele olhou para os lados, respirou fundo e, após um breve silêncio, tomou uma decisão. — Você vem comigo — ele disse, sua voz rouca, mas cheia de convicção. — Não é o melhor lugar, mas vai ser seguro por enquanto. E prometo que vou te ajudar a sair dessa. Beatriz o encarou, surpresa. Por mais estranho e improvável que fosse, havia algo naquelas palavras, algo na firmeza de sua voz que trouxe uma faísca de esperança. Mesmo que ela não conhecesse Yago, e não soubesse o que o motivava a ajudar, naquele momento, ele era a única coisa que a mantinha longe das garras de Denis. — Por que... por que você está fazendo isso? — Ela perguntou, com a voz trêmula, incapaz de conter a curiosidade. Yago desviou o olhar por um breve instante, como se aquela pergunta fosse difícil de responder. Quando voltou a encará-la, seus olhos mostravam uma profundidade que Beatriz não esperava. — Porque já estive no seu lugar antes — Ele respondeu, com uma sinceridade crua. — E sei como é sentir que o mundo inteiro está contra você. Beatriz o observou por um momento, tentando decifrar o homem à sua frente. Havia algo em Yago, algo que lhe trazia um estranho conforto. Mesmo em meio ao caos e ao medo, ela sentiu que talvez, só talvez, pudesse confiar nele. — Tudo bem — ela disse, com um leve aceno de cabeça. — Eu vou com você. Yago ofereceu um pequeno sorriso, quase imperceptível, antes de se levantar e ajudá-la a ficar de pé. — Vamos sair daqui — ele disse, olhando novamente para a rua, sempre atento ao perigo. Eles caminharam em silêncio, desaparecendo nas sombras da cidade, era estranho para ela não ser percebida, mas acreditava que era o melhor a ser feito naquela situação.Capítulo 21 Beatriz observava a paisagem passar, suas mãos entrelaçadas no colo para esconder o tremor. Sua mente era um turbilhão de medo e antecipação. Ela observou Yago, sua postura relaxada, mas alerta, suas mãos firmes no volante. A expertise com que ele executava cada curva, cada ultrapassagem, era nítida. Quem era esse homem, realmente? Um mendigo que por acaso tinha uma mansão e habilidades de operativo especial? A dúvida pairou em sua mente, mas foi ofuscada pela lembrança de seus braços ao seu redor, protegendo-a, e pela promessa em seus olhos. Ele era seu porto seguro, não importava de onde viesse. Quase uma hora depois, Yago entrou no movimentado estacionamento de um grande supermercado. — Agora — ele disse, sua voz calma. — Saia como se estivéssemos indo fazer compras. Sem pressa, sem olhar para trás. Vá em direção à entrada principal. Vou te encontrar do outro lado. Beatriz assentiu, seu coração batendo forte. Ela saiu do carro, tentando andar naturalmente, senti
Capítulo 20 O silêncio que pairava na sala após a declaração de guerra de Yago foi quebrado por um surpreendente pragmatismo. Ele não perdeu um segundo sequer em contemplação. A decisão estava tomada. O estrategista havia assumido o controle completamente. — Não temos muito tempo — Yago anunciou, sua voz era um comando baixo que ecoava na sala. — Ele sabe que a isca foi mordida. Qualquer demora nos torna previsíveis. Ele se dirigiu a um armário embutido na parede do escritório que Beatriz nunca notara antes. Com um código digital discreto, a porta deslizou silenciosamente, revelando não livros, mas uma pequena e impressionante coleção de equipamentos. Não eram armas de fogo ostensivas, mas dispositivos de tecnologia discretos e utilitários. Yago pegou uma pequena bolsa tática. — Venham — ele ordenou, levando as duas mulheres de volta para a sala principal. Sobre a mesa, ele despejou o conteúdo da bolsa. Havia dois smartphones genéricos e lacrados, dois pequenos rádios de ou
Capítulo 19 O silêncio na sala era carregado pelo peso de todas as histórias não contadas de Yago e pelo desespero atual e palpável de Beatriz. Era um silêncio que doía, que sussurrava de futuros sombrios e de passados inescapáveis. Cada segundo que passava parecia alongar-se numa eternidade de angústia, enquanto a decisão iminente pairava sobre eles como uma lâmina. Beatriz permanecia de pé, seu corpo delgado tremendo como uma folha sob a força do furacão que a assolava por dentro. Suas mãos estavam frias e úmidas, entrelaçadas na frente do corpo num gesto de súplica silenciosa. Seus olhos, enormes e inundados de um medo primitivo, estavam fixos em Yago, suplicando por uma compreensão que ia além da lógica, que mergulhava nas profundezas do instinto e do amor filial. Ela via nele não um estrategista agora, mas o único porto em sua tempestade, e ao mesmo tempo, o obstáculo que a impedia de correr para a pessoa que mais amava no mundo. Zaya, então, quebra o silêncio gelado. Ela se
Capítulo 18 E então, ele viu. Uma digitalização desbotada de uma lista de membros de um clube de negócios exclusivo, datada de quinze anos atrás. Dois nomes, separados por algumas páginas, saltaram para fora da tela como um socorro: Alistair Monteiro, o nome de seu pai. E ao lado dele, um nome que fez seu sangue gelar: Dimitri Orlov, o pai de Denis. Eles não eram amigos próximos, de acordo com os registros. Mas estavam no mesmo círculo restrito. O mesmo mundo de poder, riqueza e ausência de escrúpulos. O monstro que criou Yago e o monstro que criou Denis bebiam do mesmo poço. Ele se recostou na cadeira, uma onda de náusea e raiva absoluta lavando sobre ele. Suas mãos tremeram. Ele fechou os olhos, mas tudo o que podia ver era o sorriso frio de seu pai, sobreposto ao rosto de Denis. — Não é possível… — ele sussurrou para a sala vazia, sua voz um rugido abafado. — É outra peça do seu jogo, pai? Mesmo depois de morto, você me assombra? Conectando o meu pesadelo ao dela? A paranoia,
Capítulo 17 Beatriz desceu as escadas sentindo-se como se carregasse um segredo pesado e incômodo nas costas. Cada passo ecoava a memória do toque de Yago, daqueles segundos infinitos em que o mundo se reduzira ao calor de seus braços e à profundidade de seu olhar. Ele já estava lá, de pé diante do fogão, como se fosse uma estátua que sempre ocupara aquele espaço. O café já estava pronto, seu aroma amargo e vigoroso preenchendo o ar. Quando ela entrou, ele se virou, e por uma fração de segundo, um flash de algo não dito, não resolvido, cruzou seus olhos antes de ser rapidamente suplantado por uma cortina de neutralidade impenetrável. — Bom dia — sua voz era suave, mas profissional, como a de um médico fazendo rondas. — Bom dia — Beatriz respondeu, sua própria voz soando anormalmente aguda para seus próprios ouvidos. Ela se apressou em pegar uma xícara, evitando seu olhar. O silêncio que se seguiu era espesso e carregado, tão diferente do silêncio companheiro da noite anterior. Ca
Capítulo 16 O ar pareceu sair da sala. O silêncio não era mais apenas a ausência de som; era uma presença física, pesada e elétrica. Os olhos de Yago, normalmente tão guardados e impenetráveis, estavam completamente abertos para ela. A profundidade que ela sempre sentira estava agora exposta, brilhando com uma intensidade crua que a fez sentir-se tonta. Havia preocupação, sim, mas também uma admiração ardente, uma curiosidade feroz e um desejo tão palpável que ela pôde senti-lo no ar. Seu próprio coração parecia querer bater fora do seu peito. Seus lábios estavam secos. A mão que ela instintivamente havia colocado no peito dele para se apoiar sentia as batidas aceleradas do coração dele através da camiseta fina. Era um ritmo selvagem, um eco do seu próprio. O rosto dele estava tão perto que ela podia contar cada cílio, ver as pequenas marcas de uma vida difícil em sua pele, sentir o calor de sua respiração contra seus lábios. Ele a estava olhando como se ela fosse a única coisa rea










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