Capítulo 3

Capítulo 3

Na casa modesta onde Beatriz encontrava refúgio, um silêncio incômodo predominava no ambiente. Yago permanecia em pé diante da janela, observando a rua deserta com um olhar atento. Ele sabia que não tinham muito tempo antes que Denis os encontrasse.

Beatriz, sentada no sofá, segurava a caneca de chá que Yago havia lhe dado. Suas mãos ainda tremiam levemente, reflexo do trauma e do medo que se enraizava em seu peito. 

— Você já enfrentou alguém como ele antes? — ela perguntou, com um tom baixo.

Yago não desviou o olhar da janela. Seu rosto estava parcialmente iluminado pela luz fraca do abajur, tornando sua expressão indecifrável.

— Já enfrentei pessoas muito piores — ele respondeu, depois de um momento. — E sobrevivi.

Beatriz franziu a testa. Não sabia quase nada sobre ele. Quem era Yago, afinal? Por que arriscaria sua vida por alguém que mal conhecia?

— Você disse que já esteve no meu lugar antes — ela continuou, hesitante. — O que quis dizer com isso?

Ele finalmente virou-se para encará-la. Havia uma sombra em seus olhos, como se estivesse vendo-se em um passado que preferia esquecer.

— Quando eu era mais novo, vivi nas ruas — ele começou. — Não tinha ninguém para me proteger. E um homem como Denis… ele…

Yago parou, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.

— Um homem como Denis cruzou o meu caminho. E me destruiu — ele completou, sua voz agora mais baixa.

Beatriz sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Pela primeira vez, viu não apenas força em Yago, mas também cicatrizes invisíveis que o moldaram.

— Ele era seu pai? — ela perguntou, num palpite ousado.

O olhar de Yago endureceu.

— Sim — ele admitiu. — Mas isso não importa agora. O que importa é que Denis está atrás de você. E eu não vou deixá-lo te machucar.

Beatriz sentiu um nó na garganta. Queria perguntar mais, queria entender o que ele havia passado. Mas algo em seu olhar a fez perceber que Yago não estava pronto para compartilhar tudo. Então, ela apenas assentiu.

— O que faremos agora?

— Esperaremos. Mas não parados. — Ele pegou uma bolsa jogada em um canto da sala e começou a retirar itens dela. — Se Denis mandar seus capangas para cá, precisamos estar preparados.

Beatriz observou enquanto ele colocava uma pequena pistola sobre a mesa, junto com uma faca e um celular descartável.

— Você tem uma arma? — Ela perguntou, surpresa.

— Eu não sou idiota, Beatriz. Denis não brinca em serviço, e eu também não.

Ela engoliu em seco. Não gostava da ideia de armas, mas também sabia que, sem proteção, estavam vulneráveis.

Yago puxou um mapa da cidade e abriu sobre a mesa.

— Aqui está a casa onde estamos — ele apontou. — E aqui estão alguns pontos onde Denis provavelmente tem homens. Eu conheço algumas saídas, mas precisamos de um plano.

Beatriz aproximou-se, olhando o mapa com atenção. Seu coração batia acelerado. Pela primeira vez, sentia que poderia lutar por sua liberdade.

Mas, do outro lado da cidade, Denis também se preparava.

Ele estava em uma sala escura, iluminada apenas pelo brilho de seu celular enquanto analisava as informações que acabara de receber. Seu capanga, Carlos, permanecia ao seu lado, tenso.

— Então, ele se chama Yago — Denis murmurou.

— Sim, senhor. Ele tem experiência com esse tipo de coisa. Parece que já viveu na rua e tem contatos… perigosos.

Denis apertou os lábios.

— Perigoso, é? — Ele soltou um riso baixo. — Vamos ver o quão perigoso ele é quando tiver uma bala na cabeça.

Ele se inclinou para frente, os olhos faiscando com fúria.

— Quero que o encontrem. E tragam Beatriz de volta. Dessa vez, sem erros.

Carlos assentiu e saiu da sala às pressas.

Denis recostou-se na cadeira e pegou um cigarro. Quando acendeu, olhou novamente para a foto de Beatriz sobre a mesa.

— Você pode correr, meu amor… — ele murmurou. — Mas nunca vai escapar de mim.

***

Yago dobrou o mapa e o guardou no bolso interno do casaco, seus olhos escuros cravados em Beatriz. Ele podia ver a tensão em seus ombros, o leve tremor em suas mãos enquanto ela tentava esconder o medo por trás da determinação recém-descoberta. Ele entendia. O medo nunca desaparecia completamente. Ele se transformava, se moldava à experiência e se tornava força, vigilância e resistência.

— Se Denis vier esta noite, estaremos prontos — Yago disse, a voz firme, carregada de uma promessa silenciosa.

Beatriz respirou fundo, tentando controlar a agitação que corria em suas veias. Sua mente ainda ecoava com lembranças do passado, as noites insones, os olhos frios de Denis sempre vigiando-a, sempre esperando o momento certo para esmagar qualquer tentativa de liberdade. Mas agora, olhando para Yago, para o homem que a salvara e que parecia disposto a lutar ao seu lado, ela sentia algo diferente.

— Então que venha — murmurou, erguendo o queixo. — Eu não serei mais a mulher assustada que ele quer controlar.

Yago observou-a por um momento, sua expressão impenetrável. Então, um sorriso leve curvou seus lábios. Não era um sorriso de alegria, mas sim de respeito. Ele reconhecia aquela chama nos olhos dela.

— Assim que se fala.

Yago caminhou até um canto do pequeno cômodo e pegou um velho revólver que havia guardado ali. Verificando a munição, ele girou o tambor da arma com um movimento experiente antes de encaixá-lo de volta no lugar. Ele nunca gostou de recorrer à violência, mas sabia que, às vezes, não havia outra escolha.

— Você já segurou uma arma antes? — perguntou, erguendo o revólver para Beatriz.

Ela hesitou por um momento, seu olhar fixo no objeto de metal frio. A lembrança de Denis segurando uma arma diante dela, como forma de ameaça, piscou em sua mente como um pesadelo antigo. Mas agora era diferente. Agora, a arma estava em suas mãos.

Com um movimento hesitante, ela a pegou, sentindo o peso familiar e estranho ao mesmo tempo. Suas mãos estavam firmes agora. Ela não era mais a mesma mulher que fugia de Denis sem olhar para trás.

— Você não precisa usá-la — Yago disse suavemente, observando-a. — Mas se precisar, não hesite. Porque eu garanto que ele não hesitaria.

Beatriz assentiu, engolindo em seco. Ela nunca imaginou que chegaria a esse ponto. Mas ali estava ela, segurando uma arma, preparando-se para um confronto que nunca desejou, mas que, no fundo, sabia ser inevitável.

O silêncio foi quebrado pelo som distante de um motor de carro roncando na rua deserta. Yago se moveu rapidamente até a janela, afastando a cortina apenas o suficiente para espiar. Um carro preto desacelerou do outro lado da rua, suas luzes apagadas.

— Eles estão aqui — ele sussurrou.

Beatriz sentiu o coração acelerar. O medo tentou engoli-la, mas ela o empurrou para o fundo da mente. Agora não era hora para hesitação.

— O que fazemos? — perguntou, apertando o revólver com mais força.

Yago virou-se para ela, seus olhos intensos.

— Seguimos o plano. — Ele se aproximou, tocando de leve seu braço. — Mas aconteça o que acontecer, confie em mim.

Beatriz prendeu a respiração e assentiu.

O carro desligou o motor, e a porta do passageiro se abriu lentamente.

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