Capítulo 17
Beatriz desceu as escadas sentindo-se como se carregasse um segredo pesado e incômodo nas costas. Cada passo ecoava a memória do toque de Yago, daqueles segundos infinitos em que o mundo se reduzira ao calor de seus braços e à profundidade de seu olhar.
Ele já estava lá, de pé diante do fogão, como se fosse uma estátua que sempre ocupara aquele espaço. O café já estava pronto, seu aroma amargo e vigoroso preenchendo o ar. Quando ela entrou, ele se virou, e por uma fração de segundo, um flash de algo não dito, não resolvido, cruzou seus olhos antes de ser rapidamente suplantado por uma cortina de neutralidade impenetrável.
— Bom dia — sua voz era suave, mas profissional, como a de um médico fazendo rondas.
— Bom dia — Beatriz respondeu, sua própria voz soando anormalmente aguda para seus próprios ouvidos.
Ela se apressou em pegar uma xícara, evitando seu olhar. O silêncio que se seguiu era espesso e carregado, tão diferente do silêncio companheiro da noite anterior. Ca