Passei o dia em silêncio. Não um silêncio de medo, mas de preparo. A mala estava feita há duas semanas, escondida no fundo do armário, atrás de caixas de roupas que Adriano nunca teria paciência de mexer. O envelope com os papéis do divórcio repousava sobre a penteadeira, pesado como chumbo e, ao mesmo tempo, libertador como o ar que antecede a tempestade.
Escrevi meu nome no fim da última página com calma, como quem assina não apenas um documento, mas uma nova vida. “Clara Monteiro.” As letras firmes me deram a sensação de que eu já não era refém. Eu estava pronta.
Do andar de baixo, escutei os passos de Adriano, apressados, ansiosos. A porta se abriu e se fechou logo em seguida. Ele não subiu para se despedir, não quis trocar palavras. Apenas saiu. Sabia muito bem para onde ia — ou melhor, para quem ia. Elena estava de volta, e ele não fazia mais questão de esconder.
Peguei o envelope, coloquei-o na bolsa e olhei ao redor do quarto que um dia considerei meu lar. Agora, cada móvel, c