Passei o dia inteiro com o celular na mão, esperando o momento certo. O número dela — Elena, o fantasma que nunca deixou de assombrar cada canto da minha vida — parecia brilhar na tela como uma ferida mal cicatrizada. O silêncio entre nós desde a última mensagem me deixava em alerta. Não era o tipo de mulher que ficava quieta por muito tempo. E, se estava calada, era porque tramava.
Enquanto preparava o almoço, observei meu marido de relance. Ele se movia pela cozinha sem perceber que cada gesto dele agora era estudado. Cortava tomates, mexia na panela, mas os olhos não paravam: olhava o celular, olhava a janela, olhava para dentro de si, talvez. O nervosismo começava a devorá-lo por dentro.
— Você está estranha ultimamente — disse ele, tentando um tom casual, mas a rigidez na voz o denunciava. — Está pensando em algo?
Sorri, mexendo o molho. — Estranha como?
— Não sei… mais distante.
— É só cansaço — respondi, sem erguer os olhos. — Às vezes, lembrar do acidente me esgota.
Ele travou