O tempo, quando amadurece, não passa — repousa. E era assim que a Casa Raízes existia agora: repousando sobre tudo o que fora sem jamais deixar de crescer.
O portão azul e verde já não era apenas entrada, mas símbolo. Gente de todos os cantos do país vinha vê-lo, tocá-lo, fotografá-lo. Algumas deixavam bilhetes com histórias, outras apenas choravam em silêncio diante da placa onde se lia o nome de Clara Monteiro.
Era um domingo de sol quando Júlia chegou mais cedo. Gostava de vir sozinha antes do movimento começar. Caminhou até o jardim, onde as flores recém-plantadas desabrochavam tímidas. A brisa trazia o perfume doce do alecrim e da lavanda, misturado ao som das vozes que ecoavam ao longe — risadas, canções, vida.
Parou diante do caderno de Clara, protegido pelo vidro, e leu as palavras já gastas pela luz:
"O amor é o que sobra depois que a dor já gastou tudo o que tinha."
Sorriu. — Você estava certa, Clara — murmurou. — No fim, é o amor que fica.
O portão rangeu atrás dela. Era Mi