A madrugada posterior ao ataque foi longa. Ninguém dormiu direito na Casa Raízes. O som do portão caindo, o eco dos gritos, o estilhaço do vidro quebrando — tudo ainda reverberava nos corpos e nas lembranças. Mesmo em silêncio, as mulheres pareciam ouvir o passado se repetindo.
Clara ficou acordada até o amanhecer. Miguel insistira para que ela descansasse, mas ela se recusou. Sentou-se na varanda, enrolada num cobertor, observando o portão improvisado com tábuas e arames, montado às pressas pelas voluntárias e pelos vizinhos solidários. Havia sangue seco em um dos degraus da entrada — uma das mulheres cortara a mão ao tentar segurar a madeira.
O sol subia devagar, colorindo o céu de laranja e rosa, mas Clara sentia o peito pesado. O ataque não a surpreendia, mas doía. Era diferente ver o medo nos olhos das meninas, sentir o tremor das mãos de Júlia, ouvir Luana chorando escondida no banheiro, acreditando que ninguém perceberia.
Na cozinha, o cheiro de café se espalhava, mas o ar aind