As manhãs na segunda Casa Raízes tinham adquirido um ritmo próprio. O portão de ferro, antes enferrujado, agora rangia ao abrir-se para receber novas mulheres, novas histórias, novas feridas a serem cuidadas. O frio do inverno começava a ceder, mas o vento ainda cortava a pele quando Clara chegava acompanhada de Miguel. Ela caminhava devagar, apoiada no braço dele, mas fazia questão de estar presente. Queria ver com seus próprios olhos o que nascia ali, sem pressa, como uma árvore que se fortalece em silêncio.
Naquela manhã, encontrou Júlia no pátio, cercada por papéis, canetas e uma pilha de cadernos improvisados.
— O que é tudo isso? — perguntou Clara, ajeitando o xale sobre os ombros.
— É o começo da escola — respondeu Júlia, com um brilho no olhar. — Muitas meninas nunca escreveram o próprio nome. Outras pararam de estudar cedo demais. Então pensei: por que não criamos nossas próprias aulas aqui?
Clara sorriu. — Você sempre encontra caminhos.
Luana apareceu logo depois, trazendo u