O vento carregava o cheiro salgado do mar quando Clara desceu do carro. O aeroporto estava atrás dela, e diante, uma linha infinita de areia e água se estendia como se o mundo tivesse decidido oferecer-lhe um caminho novo. A viagem não fora planejada em detalhes; pela primeira vez, ela permitira que a vida a surpreendesse. Escolhera um destino sem passado, sem marcas de dor, apenas a promessa de recomeço.
Carregava pouca bagagem. Deixara para trás vestidos caros, joias herdadas de um casamento manchado e até mesmo lembranças físicas que poderiam prender seu coração. Em sua mala, apenas o essencial: alguns livros, roupas leves e um caderno em branco. Um espaço intocado, pronto para ser escrito com a própria vida.
Nos primeiros dias, Clara explorou o lugar como quem aprende a respirar de novo. Caminhava pelas ruas estreitas da pequena cidade costeira, sentava-se em cafés onde ninguém a reconhecia, ouvia as conversas triviais de moradores que viviam sem a pressa da capital. Era um anonim