Felipe
Mas a paz nunca dura. O amanhecer não traz calma, traz clareza. Cada feixe de luz que atravessa as cortinas é uma lâmina que me corta por dentro, me lembrando de tudo o que preciso fazer. Helena respira ao meu lado, o corpo ainda quente, o cheiro ainda preso no quarto. E enquanto ela dorme, eu já decidi. Não há espaço para hesitação. Se quero Helena inteira, preciso cortar o mal pela raiz. E Lucas é a raiz.
Não pretendo matá-lo. Ainda não. Seria rápido demais, limpo demais, até misericordioso demais. Homens como ele não merecem um fim súbito. Merecem apodrecer por dentro, merecem sentir cada camada da própria vida se desfazer, lenta e dolorosamente. Eu quero vê-lo implorar. Quero vê-lo assistir à vida dele desmoronar, pedacinho por pedacinho, até entender que não há vitória possível contra mim. E, quando esse momento chegar, Helena vai estar ali. Vai ver. Vai saber quem eu sou. E, por mais que tente fugir, vai perceber que o único lugar seguro é nos meus braços.
Ela acorda pouc