Helena
Há silêncios que gritam. E o de Felipe, naquela manhã, era ensurdecedor. Ele não me perguntou onde eu estava indo. Não disse “volte cedo”, nem tentou me impedir de sair. Apenas me observou, com aquele olhar de aço que parecia medir cada respiração minha, e deixou que eu fosse.
Mas o que me acompanhou até o elevador não foi o silêncio dele. Foi a sensação de que alguém estava me seguindo — de que, mesmo distante, Felipe ainda me mantinha sob vigilância.
E talvez fosse verdade.
O ar frio da manhã não trouxe o alívio que eu esperava. Enquanto o carro avançava pelas ruas, olhei o reflexo no vidro: a mulher pálida, de olhos inquietos e gestos contidos, não parecia comigo. Era uma estranha, moldada por medo e desejo, presa num círculo que não sabia como quebrar.
Tudo em mim girava em torno dele. Felipe Diniz. O homem que eu deveria temer, mas que o coração insistia em amar. E, ao mesmo tempo, Lucas. O irmão que eu havia deixado para trás, ferido, humilhado e despido da pouca dignidad