Felipe
O som do silêncio dela me persegue. Helena não falou nada depois da discussão. Apenas saiu do quarto, deixando o perfume dela no ar, como uma lembrança amarga do que eu nunca deveria ter tocado. Desde então, cada minuto parece um desafio à minha própria sanidade. Há dias em que penso em simplesmente deixá-la ir. Mas logo me lembro do que acontece quando abro mão do controle. Tudo desmorona. E eu não vim ao mundo para perder.
A cidade ainda dorme quando chego à cobertura. O céu é uma sombra espessa, cortada por faróis distantes. Abro a pasta sobre a mesa, espalhando os relatórios que meus seguranças trouxeram sobre Lucas Magalhães. Negócios sujos. Dívidas com gente que nem eu ousaria enfrentar. E, pior: envolvimento com o nome da minha empresa, disfarçado em contratos falsos.
Era o suficiente para destruir qualquer um. Mas eu não queria destruí-lo. Eu queria que ele sentisse o gosto do medo. O mesmo que senti anos atrás, quando perdi tudo. Quando o pai dele — o homem que criou H