Felipe Diniz
Uma noite, após uma longa e cansativa reunião, saio tarde da empresa O tempo está pesado, úmido, cheirando a concreto e tempestade prestes a cair. As luzes da rua refletem nos carros parados em frente ao prédio da Diniz Cosmetics, e tudo parece calmo — até que eu os vejo.
Helena e Adrian.
Eles estão sob o toldo de vidro, perto da calçada. Ele está perto demais. O tipo de “perto” que tem intenção, que quer marcar território. E ela… ela ri. Um riso contido, nervoso, o tipo de riso que aprendi a decifrar quando ainda éramos apenas um segredo entre olhares e portas trancadas.
E então ele toca o braço dela.
Um gesto pequeno. Mas para mim, é como se o tempo voltasse — o passado se infiltrando pela pele, o instinto voltando como lâmina.
Sem pensar, avanço.
— Tire a mão dela.
A voz sai grave, cortante, como um trovão reprimido.
Adrian se vira devagar, o sorriso dele é um convite à provocação.
— Ah... o senhor Diniz. — ele diz, com um deboche escorregadio. — O lobo aposentado.
O s