A mansão de hóspedes, nos fundos da propriedade dos Mancini, parecia engolir o tempo. Cada segundo arrastava-se como se tivesse peso, como se o silêncio que habitava aquele lugar fosse espesso o bastante para sufocar. O ar era imóvel, carregado de poeira antiga, memórias mal enterradas e fantasmas que Daniel jamais conseguiu exorcizar.
Já fazia menos de uma hora desde que ele pisara ali, mas o peito pesava como se tivesse voltado de uma guerra — e, de certa forma, tinha. A mala jogada no chão, ainda intacta, era o reflexo perfeito do caos dentro dele. Não era só por não saber se deveria desembrulhar suas roupas. Era por não saber se ainda era um homem que merecia habitar qualquer espaço. Aquela casa, aquela cidade, aquele passado. Amanda.
Sentou-se no sofá de couro com um baque seco, como um corpo vencido. O cheiro do couro misturava-se ao tabaco do cigarro que ele acendeu com mãos trêmulas — mesmo sabendo que Lucca odiava o cheiro, mesmo sabendo que aquele cigarro era um retrocesso.