Amanda
Às vezes, nas noites mais calmas, quando o mundo inteiro parece conter a respiração e até o relógio silencia, Amanda se permite lembrar.
Não das dores cortantes, embora elas estejam ali — adormecidas, mas jamais apagadas.
Ela se permite lembrar das cicatrizes que a formaram. Das noites em que dormiu sozinha com a alma em carne viva, e das manhãs em que acordou com a esperança mastigada, mas ainda assim intacta.
A casa repousa ao redor, serena, como um organismo vivo feito de amor, madeira antiga e novos começos. O vento dança com as cortinas brancas, trazendo o perfume da lavanda plantada no jardim. Um cheiro que ela mesma escolheu — por representar aquilo que dura e acalma.
Ela se levanta, descalça, e caminha com passos leves até o berço branco próximo à janela. A lua derrama sua luz líquida sobre o quarto. Aurora, sua primogênita, dorme profundamente. A respiração pausada, os cílios compridos repousando como asas fechadas sobre a pele de pêssego. Os dedinhos fechados em punh