O outono tomava Lisboa como um incêndio lento — folhas em tons de ferrugem dançando sobre as pedras antigas, e o ar com cheiro de passado e promessas. Eduardo caminhava entre as colunas da universidade com passos que carregavam mais do que peso físico. Carregavam história. Escolha. E um tipo de saudade que só quem foi muito amado entende.
O casaco xadrez, presente de Amanda, envolvia-o como se fosse abraço. Ainda exalava lavanda. O mesmo aroma que preenchia as manhãs na casa onde ele cresceu — onde Amanda servia café com pão quente e sabedoria em doses pequenas, porém definitivas.
Na mochila, os livros pareciam pesados, sim. Filosofia Política. Direito Internacional. Mas era dentro do peito que ele carregava as perguntas mais difíceis:
E se eu fracassar? E se não for suficiente? E se me perder de mim mesmo?
Nos primeiros meses, a cidade parecia fria. Os corredores, longos demais. Os colegas, brilhantes demais. Eduardo se sentia um ponto fora da equação. Um coração no meio de cérebros.