O relógio marcava 2h17 da madrugada. O esconderijo de Mauro, uma casa isolada nas redondezas da fronteira, estava mergulhado em penumbra. As paredes grossas abafavam qualquer ruído do mundo exterior. Apenas o som estático da televisão preenchia o espaço — o replay da coletiva de Amanda ecoava no ambiente, repetindo as mesmas frases, a mesma firmeza no olhar dela.
Mauro estava sentado em uma poltrona de couro gasta, os cotovelos apoiados nos joelhos, o rosto iluminado apenas pela luz azulada da tela. Os olhos dele estavam vidrados, escuros, como se pudessem atravessar a imagem de Amanda e rasgar seu orgulho em pedaços.
— Ela ainda não está quebrada… — murmurou, como se falasse sozinho. A voz saiu baixa, seca, carregada de veneno.
Do outro lado da sala, o homem tatuado encostado à parede estalou os dedos, inquieto.
— Quer que a gente intensifique as ameaças? Um carro a mais queimado? Um bilhete direto pro Eduardo?
Mauro se virou devagar, o olhar cortante.
— Não. Isso seria previsível. F