VITÓRIO NARRANDO
O silêncio que veio depois da minha ameaça pesava mais que a lâmina em minhas mãos. As duas empregadas tremiam, uma com a bandeja ainda na mão, a outra tentando se manter firme com a jarra. Mavi permanecia sentada, os olhos duros como vidro, mas eu percebi o leve tremor nos dedos quando ela repousou os talheres sobre o prato. Ela não era fraca. Mas ninguém nasce pronta pra lidar com um Morelli.
Levantei da cadeira devagar. O estalo do couro da minha cinta de relógio cortou o ar quando ergui o braço, abrindo o canivete prateado. A lâmina apareceu como uma extensão do meu pulso. Precisa. Polida. Letal.
— Levantem-se — ordenei às duas.
Nenhuma se moveu.
Meu tom não mudou. Só meus olhos endureceram.
— Eu disse: levantem.
A mais nova obedeceu primeiro. Os joelhos tremiam como galhos sob vento forte. A outra a seguiu, e eu avancei, parando diante dela — a que insinuou. A que ousou soprar veneno nos corredores da minha casa.
— A língua — pedi, baixo, frio.
— Senhor… por fav