MAVI NARRANDO
A imagem dele puxando a língua da empregada e apontando a lâmina do canivete continuava queimando atrás dos meus olhos. Aquela cena era um lembrete do mundo em que eu tinha entrado. Um mundo que não aceitava erros. Que não perdoava desrespeito. E que lidava com boatos como se fossem sentenças.
Eu sustentei meu papel por tempo suficiente. Mas no fundo, eu tremia.
O rosto da mulher ainda me assombrava. O medo nos olhos dela. As mãos trêmulas. A gota de suor escorrendo pela têmpora. E ele ali, impassível, apenas sustentando o peso do próprio poder.
Eu tentei engolir a sensação de que havia ultrapassado uma linha invisível. Eu queria ser respeitada. Ser ouvida. Mas naquele mundo, a palavra “senhora Morelli” vinha cercada de sangue, de ameaças, de controle.
Fui despertada dos meus pensamentos quando ele se levantou, deixando o prato intacto, o olhar ainda fixo em mim.
— Suba.
Só isso. E virou as costas.
Segui atrás, sem dizer nada, sentindo o salto ecoar nos degraus como se c