O resto da tarde passou num silêncio cheio de significado.
Mila sentou-se na escrivaninha e abriu o caderno onde anotava ideias para o projeto.
Enquanto isso, Blerim se ocupou no pátio, lixando tábuas antigas com uma calma que parecia oração.
De vez em quando, ela erguia o olhar, só pra vê-lo ali.
Era curioso como, mesmo sem dizer nada, ele parecia sempre dizer fica.
Na tela do computador, Mila escreveu:
"A Albânia não é feita apenas de montanhas e castelos. É feita do jeito como se enrola um byrek, de como se acolhe um vizinho, de como se enterra o passado sem perder o que ele ensinou."
Ela parou, respirando fundo.
De tudo que vivera até ali, talvez essa fosse a parte que mais queria contar:
O país era mais do que paisagem.
Era gesto.
Era memória.
Era escolha.
Quando o sol começou a baixar, ela saiu até o pátio.
Blerim estava sentado num degrau, com as mãos apoiadas nos joelhos, olhando o quintal como se pensasse em algo distante.
— Tá tudo bem? — perguntou ela, sentando-se ao lado.