Capítulo 3

O salão estava cheio de rostos conhecidos e inimigos disfarçados de aliados. As taças tilintavam, as conversas sussurradas soavam como conspirações, e Amara sentia o estômago revirar a cada brinde ao "casamento da paz".

Paz?

Nada naquilo era pacífico.

Ela caminhou entre os convidados com Dante ao lado, a mão dele repousando em sua cintura de forma possessiva, como se quisesse lembrar a todos — e a ela — que agora ela pertencia ao Lobo de Palermo.

Mas Amara não era propriedade de ninguém.

Os sorrisos que ela distribuía eram calculados, as respostas afiadas, enquanto os olhares famintos dos mafiosos mais velhos percorriam seu corpo, analisando, julgando, subestimando.

Até que a mão de Dante apertou sua cintura, o toque discreto, mas cheio de significado.

— Está se saindo bem — ele murmurou contra o ouvido dela, a voz rouca, carregada de ironia. — Para alguém que odiaria estar aqui.

Ela não se virou, apenas sorriu para um dos conselheiros que passava.

— E você está se saindo bem… para alguém que deveria me odiar — rebateu, o tom cortante.

Dante soltou uma risada baixa, sem humor.

— Não confunda. Odiar você é fácil. Difícil vai ser resistir ao jogo que começou hoje.

Antes que ela respondesse, o líder do Conselho se aproximou. Os olhos frios e o sorriso ensaiado.

— Moretti, Bellucci… Parabéns pelo casamento. Que o juramento os mantenha vivos.

Vivos. Não felizes. Não unidos. Apenas… vivos.

Quando o homem se afastou, Dante inclinou o rosto na direção dela, o olhar sério.

— Vamos sair daqui.

Ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

— Fugindo da festa? Que exemplo para um casamento tão… genuíno.

Ele não sorriu.

— Estamos sendo observados. E você precisa aprender rápido como esse jogo funciona, esposa.

Sem esperar mais provocações, ele a guiou pelo salão, atravessando portas laterais até o interior mais reservado da mansão Bellucci.

O corredor estava vazio, silencioso. E só então ela percebeu o quanto sua respiração estava acelerada.

Dante parou diante dela, o corpo alto dominando o espaço, o olhar queimando.

— Você acha que isso tudo é uma encenação, Amara? — ele perguntou, o tom grave, carregado de ameaça contida. — Mas está enganada. Esse casamento é uma guerra. E ou aprendemos a lutar juntos… ou morremos sozinhos.

Amara sustentou o olhar, o coração disparando, o orgulho gritando.

— Eu não preciso de você para sobreviver — afirmou, a voz baixa, mas firme.

Dante se aproximou ainda mais, o calor dele invadindo o espaço entre os dois, a tensão tão densa que o ar parecia pesar.

— Não precisa gostar de mim. Não precisa confiar em mim. Mas a partir de hoje… — ele deslizou o polegar pela aliança no dedo dela, os olhos fixos nos dela — … somos uma fraqueza e uma arma. E, na máfia, ou você aprende a ser cruel… ou vira cadáver.

O silêncio pairou entre eles, carregado de tudo o que não disseram.

E, no fundo, ambos sabiam: o casamento era só o começo.

A guerra real estava prestes a explodir.

O quarto que prepararam para eles na mansão Bellucci era amplo, frio e impecável. A cama grande ao centro parecia mais um campo de batalha do que um espaço de descanso.

Amara entrou primeiro, os saltos ecoando no piso de madeira enquanto observava cada canto. As janelas davam vista para os jardins antigos, as paredes estavam adornadas com quadros clássicos e mobília herdada de gerações… e o ar estava saturado com o peso de tudo o que ela carregava agora.

O som da porta se fechando atrás dela fez seu estômago revirar.

Dante estava encostado à porta, os braços cruzados, o olhar cinzento queimando sobre ela.

— Bonito, não? — ele ironizou, observando o quarto. — O Conselho não economizou no conforto para o casal do ano.

Amara virou-se devagar, o vestido branco ainda moldando o corpo como se fosse uma armadura desconfortável.

— Não precisa fingir que se importa — ela disse, retirando os brincos, a voz afiada. — Sei muito bem que está aqui para me vigiar. Não para dividir uma cama.

Dante deu dois passos à frente, o rosto perigosamente próximo.

— Não subestime o que posso ou não dividir com você, Bellucci.

Ela arqueou uma sobrancelha, o orgulho escorrendo pelas palavras:

— Não confunda essa aliança com algo real, Moretti. Você pode ser bom em matar, mas não vai me dobrar tão fácil quanto dobra seus alvos.

Ele soltou uma risada seca, sem humor.

— Eu não preciso que você se dobre, Amara. Só preciso que você sobreviva. E, para isso, vai ter que me aturar… bem mais do que gostaria.

O silêncio se instalou, denso, quase palpável.

Amara desviou o olhar, andando até a penteadeira, soltando os grampos do cabelo com dedos trêmulos, mas a expressão intacta.

— E o que sugere, Moretti? Que passemos noites assim? Fingindo que somos aliados, quando mal podemos nos suportar?

Dante caminhou até ela, parando às costas dela, tão próximo que ela podia sentir o calor do corpo dele. O reflexo dos dois no espelho mostrava exatamente o que eram: uma guerra mal disfarçada.

— Não vamos fingir — ele sussurrou contra a pele dela, a voz rouca, carregada de promessa e ameaça ao mesmo tempo. — Vamos jogar. E, nesse jogo, ou aprendemos a manipular todos lá fora… ou seremos as próximas vítimas.

Amara respirou fundo, sentindo o coração acelerado, o corpo em alerta.

Virou-se devagar, o rosto a poucos centímetros do dele.

— Que fique claro — ela sussurrou, o tom cortante — Eu sobrevivo sozinha desde antes de você saber o que é lealdade.

Dante segurou o queixo dela com firmeza, os olhos ardendo.

— E eu mato antes mesmo de alguém pensar em me trair.

Os dois se encararam, o ar entre eles pesado, carregado de tudo o que ainda estava por vir.

E, no fundo, sabiam:

O casamento era um pacto forjado.

Mas o desejo e o perigo?

Esses, nem o Conselho conseguiria controlar.

O quarto estava mergulhado em um silêncio pesado, onde cada respiração parecia um desafio e cada movimento, um risco calculado.

Dante soltou o queixo dela devagar, os dedos deslizando pelo rosto de Amara antes de se afastar. Mas os olhos… os olhos dele continuavam cravados nela, como se pudesse ler todos os segredos que ela escondia sob aquela fachada de frieza.

Amara respirou fundo, virando o rosto e caminhando até a cama. Sentou-se à beirada, tirando os saltos com calma, como se não sentisse o corpo inteiro em alerta, a pele arrepiada pela proximidade dele.

— Vai ficar me encarando a noite toda? — ela provocou, sem olhar para trás.

Dante se apoiou na lateral da parede, as mãos nos bolsos, o terno impecável, o ar de predador inabalável.

— Estou me certificando de que não vai tentar fugir pela janela — respondeu, a voz baixa e cortante.

Ela soltou uma risada seca, erguendo o olhar na direção dele.

— Se eu quisesse fugir, Moretti, você não me veria sair.

Ele arqueou uma sobrancelha, o canto da boca se curvando em um meio sorriso cínico.

— Admiro sua coragem… ou teimosia. Não sei qual vai te matar primeiro.

Amara se levantou, caminhando em direção à penteadeira, abrindo um dos armários, procurando algo para se livrar daquele vestido sufocante. Encontrou uma camisa simples de algodão, largamente esquecida ali, provavelmente de algum dos empregados ou de Riccardo.

Dante observava cada movimento dela, os olhos cinzentos escurecendo, como se calculasse o perigo e, ao mesmo tempo, lutasse contra algo que nem ele sabia nomear.

Ela virou de costas, puxando o zíper do vestido sozinha. O tecido deslizou pelos ombros, expondo parte das costas nuas, a cicatriz fina ao lado das costelas revelada sob a luz fraca do abajur.

Por um segundo, o quarto ficou ainda mais silencioso.

O olhar de Dante caiu na cicatriz.

E, por um instante raro, o predador recuou um pouco da armadura.

Amara percebeu o olhar dele, mas não se virou de imediato. Terminou de vestir a camisa, longa o suficiente para cobrir parte das coxas, e só então o encarou.

— A cicatriz incomoda? — perguntou, o tom desafiador. — Ou o problema é saber que estou aqui, inteira, quando metade dos homens dessa casa prefere me ver morta?

Dante se afastou da parede, os passos lentos e calculados até parar diante dela.

— Não me incomoda o que você carrega no corpo — ele respondeu, o olhar agora mais contido, mas ainda afiado. — Me incomoda o que carrega na cabeça… essa maldita mania de achar que pode sobreviver sozinha aqui.

Ela sorriu, sem humor, cruzando os braços.

— Não estou sozinha, lembra? — ergueu a mão, mostrando a aliança reluzindo sob a luz. — Agora tenho um marido para me vigiar.

Dante segurou o pulso dela com firmeza, puxando-a suavemente para perto, sem romper a linha de tensão que os separava.

— Não se engane, Amara — ele sussurrou, a voz baixa, carregada de perigo. — Eu sou o único aqui que pode te proteger… ou te destruir.

Os olhos dela arderam em desafio, mas o corpo respondeu antes da mente processar. A pele arrepiou, o coração acelerou, e por um segundo, ela odiou o quanto aquela presença mexia com o autocontrole que lutava tanto para manter.

Dante soltou o pulso dela devagar, os dedos deslizando pelo braço antes de se afastar em direção à poltrona no canto do quarto.

— Boa noite, esposa — ele disse, sentando-se e cruzando as pernas, como se fosse um guarda de plantão.

Amara caminhou até a cama, os músculos tensos, o orgulho intacto, mas a mente… em guerra.

Deitou-se, sem dizer mais nada, e o quarto mergulhou no silêncio outra vez.

Mas, mesmo com os olhos fechados, ela sabia:

O Lobo estava ali.

E o jogo mal tinha começado.

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