Capítulo 4

A manhã fria na mansão Bellucci era um convite ao silêncio, mas para Amara, o silêncio pesava como uma sentença.

Ela se levantou da cama, vestida ainda com a camisa branca que parecia pequena demais para conter a inquietação que crescia dentro dela. O olhar pesado caiu sobre Dante, encostado na parede, observando cada movimento como um predador.

— Vai continuar me olhando como um lobo faminto, ou pretende dizer alguma coisa? — ela disparou, sem se virar.

Dante cruzou os braços, seu olhar cinza atravessando a distância entre eles.

— É fascinante te observar. Um orgulho tão grande que mal cabe nesse quarto — a voz baixa, sarcástica — Não sei o que vai te matar primeiro: os inimigos lá fora… ou esse ego inflado.

Amara virou-se devagar, braços cruzados, um sorriso frio esculpido no rosto.

— Achei que o Lobo de Palermo só sabia rosnar, mas vejo que também tenta filosofar — provocou, se aproximando — Pena que não impressiona.

Ele inclinou o rosto, seus olhos percorrendo-a lentamente.

— Você não parece tão imune assim — sussurrou, carregado de veneno e algo mais que ela não quis nomear.

Ela riu, desafiadora.

— Sobrevivi a homens piores que você, Moretti.

Dante deu um passo à frente, tão próximo que podiam sentir o calor da respiração um do outro.

— Sobreviveu… mas não casou com nenhum deles. Parabéns. Agora tem um marido que, oficialmente, pode te proteger… ou te destruir. Escolha inteligente.

Amara ergueu o queixo.

— Você não me assusta. Cresci cercada de homens como você. Frios, armados… e todos caíram. Você não é exceção.

Dante sorriu, olhos escurecidos.

— E você acha que está acima da queda?

Ela se aproximou ainda mais.

— Eu não caio. Eu derrubo.

O ar parecia pesado, eletrificado. Ele se inclinou e sussurrou no ouvido dela:

— Adoro mulheres teimosas. São as que mais gritam quando perdem o controle.

Amara sentiu um arrepio, mas o sorriso continuou.

— Cuidado, Moretti. Quem grita primeiro… geralmente não sou eu.

Eles se afastaram, conscientes de que aquela guerra entre eles mal começava.

Nesse instante, Matteo, o capanga, entrou apressado, com notícias que congelaram a tensão no ar.

— Senhor Moretti, senhorita Bellucci… encontraram um corpo na estrada ao norte. Marca dos Bellucci no peito.

Dante imediatamente assumiu o comando, voz firme:

— Prepare o carro. Vamos agora.

Amara segurou o braço dele com determinação.

— Vou junto.

Ele a olhou, desafiador, mas assentiu.

— Se vista. Vai precisar parecer forte… mesmo que não se sinta.

Enquanto ela se preparava, o peso do juramento e da ameaça pairavam no ar. A guerra havia começado de verdade.

O carro preto deslizou silencioso pela estrada estreita e rodeada por oliveiras, sob a luz pálida da manhã.

Amara observava as árvores passando, o pensamento acelerado, o corpo ainda tenso da viagem.

Dante estava ao volante, os olhos atentos, o rosto fechado como uma fortaleza.

— Ninguém mexe nessa estrada sem que o Conselho saiba — ele disse, quebrando o silêncio. — Alguém quis que encontrassem o corpo. Um recado claro.

Amara apertou os dedos contra o couro do assento.

— E se for meu irmão?

Ele lançou um olhar rápido para ela.

— Então é um aviso para você — respondeu com frieza. — Ou para quem ainda pensa em se opor ao Conselho.

A poucos metros, a movimentação da equipe de segurança já era visível: homens armados, lanternas buscando no mato, o corpo estendido, coberto por um lençol sujo.

Amara e Dante desceram do carro. O ar da manhã parecia mais pesado ali, o cheiro de terra úmida misturado ao ferro do sangue recente.

Um dos capangas afastou o lençol, revelando a marca cruel gravada no peito do homem: um símbolo antigo, o emblema dos Bellucci, como um selo de propriedade.

Amara engoliu em seco. A face do homem era irreconhecível, mas a ferida aberta não deixava dúvidas: era um aviso brutal e personalizado.

Dante agachou-se ao lado do corpo, os olhos examinando cada detalhe.

— A mensagem está clara — disse, olhando para Amara. — Não é só um recado. É um desafio.

Ela sentiu o olhar de Dante sobre si, mais penetrante que as balas que poderiam disparar.

— Precisamos descobrir quem fez isso — afirmou com firmeza. — Antes que o próximo recado seja para mim.

O sol começava a subir, iluminando um cenário onde cada passo poderia ser o último.

E no submundo da máfia, sangue sempre pede mais sangue.

A viagem de volta à mansão Bellucci foi silenciosa.

Nem mesmo o ronco do motor parecia romper o peso que pairava no ar.

Amara encarava o horizonte pelo vidro escuro, os pensamentos girando em turbilhão.

O corpo encontrado, a marca da família, o aviso claro: estavam cercados.

Dante manteve o olhar fixo na estrada, a mandíbula tensa, os dedos apertando o volante como se cada nó o ajudasse a controlar a fúria contida.

Quando finalmente estacionaram no pátio da mansão, a noite já começava a se espalhar pelo céu, envolvendo tudo numa sombra inquietante.

Ao entrar, foram recebidos pelos olhares atentos dos capangas e pelos cochichos dos conselheiros.

Amara sentiu todos os olhos sobre si.

Alguns julgadores, outros calculistas, todos cientes de que ela agora era o centro de um jogo muito maior que ela.

No corredor, Dante parou, virando-se para encará-la.

— Isso é só o começo — disse, a voz firme. — Se quiser sobreviver aqui, precisa entender uma coisa: fraqueza é sinônimo de morte.

Amara cruzou os braços, enfrentando o olhar dele.

— Eu não sou fraca. E não vou me curvar para ninguém.

Dante sorriu, um sorriso que não alcançava os olhos.

— Então esteja preparada para lutar com unhas e dentes. Porque aqui, mais do que amor, só existe poder.

O silêncio entre eles era cortante.

Ela queria acreditar que poderia controlar aquele jogo.

Ele sabia que, no final, ambos precisariam do outro — quer admitissem ou não.

A mansão, com seus corredores imensos e segredos enterrados, parecia mais uma prisão a cada passo.

E naquele jogo de traições e juramentos, a linha entre aliado e inimigo era mais tênue do que Amara jamais imaginara.

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