O CEO

A porta interna abriu devagar, e Helena se levantou sem pensar. Os passos firmes que ecoavam pelo corredor pareciam ditar o ritmo daquela casa — constantes, controlados, quase autoritários.

A senhora Quinn endireitou a postura.

Então ele apareceu.

Ethan Hartman.

O nome era comum.

O homem — nunca seria.

Ele surgiu no corredor como se o ambiente tivesse sido alinhado em torno dele. Alto — facilmente um metro e oitenta e oito —, ombros largos, o terno cinza-escuro feito sob medida caindo com precisão impecável. O paletó pendia no antebraço, revelando o colete ajustado e a camisa branca perfeitamente alinhada ao corpo.

Os cabelos castanhos-escuros estavam penteados para trás, mas a luz revelava reflexos mais claros — profundos, não suaves. O rosto era marcado, masculino, firme. Mandíbula definida, nariz reto, uma expressão de quem raramente se permite vacilar.

Mas eram os olhos que prendiam Helena.

Azuis acinzentados.

Friamente calculados.

E, por trás disso, algo inquieto — como se guardassem memórias que ele não deixava ninguém tocar.

Um homem esculpido para o poder.

Um homem que dominava cômodos apenas por existir dentro deles.

Ele caminhava com controle absoluto, mas havia tensão nos ombros — um peso antigo, invisível. E, quando seus olhos encontraram os de Helena, o mundo pareceu segurar o fôlego.

Ela sentiu o estômago despencar sem motivo.

Era só uma entrevista.

Só um homem.

Mas aquele olhar…

Despertava algo nela. Algo estranho, adormecido, como se uma lembrança borrada tentasse subir à superfície.

E Ethan também parou.

Por um instante mínimo.

Rápido demais para qualquer outra pessoa notar.

A expressão dele não mudou.

Mas o olhar… congelou — como se tentasse reconhecer um eco distante.

— Senhor Hartman — disse a senhora Quinn, quebrando a tensão — esta é Helena Marlow, candidata ao cargo de babá.

Ele piscou uma vez, retomando o controle.

— Senhorita Marlow — sua voz veio baixa, polida, impecável. — Obrigado por vir.

Profissional. Intocável. Preciso.

Mas Helena sentiu, como um toque gelado na nuca, que havia algo por trás daquela máscara — algo que reagira à presença dela.

— Eu que agradeço — respondeu, tentando manter a postura.

Ethan a observou por um segundo longo demais para ser apenas formalidade.

Como se buscasse algo.

Como se tentasse encaixar uma peça perdida em algum lugar da própria mente.

Então desviou os olhos e recuperou o controle absoluto.

— Vamos ao escritório — disse, num tom que soava mais como instrução do que convite. — Depois quero que você conheça o Henry.

A senhora Quinn fez um leve aceno, quase orgulhosa.

Helena seguiu Ethan pelo corredor silencioso, sentindo o coração bater forte demais.

Por que aquele homem parecia tão… familiar?

Ela não tinha resposta.

Seu corpo parecia reconhecer algo que a mente não lembrava.

O escritório era amplo, organizado com precisão quase matemática. Livros alinhados, nenhuma folha fora do lugar, tudo limpo de um jeito quase impessoal.

Ethan colocou o paletó sobre a cadeira, virou-se e indicou a ela o assento à frente.

— Sente-se.

Helena obedeceu de imediato.

Ele abriu a pasta com movimentos calculados, como se tudo naquele ambiente — até o silêncio — estivesse sob seu controle.

— O cargo exige responsabilidade, estabilidade emocional e… presença — disse ele, pausando na última palavra. — Henry é uma criança tímida. Ele precisa de alguém constante. Alguém que esteja realmente aqui.

“Presença”.

A palavra parecia carregar mais coisa do que ele dizia.

Helena respirou fundo.

— Eu entendo. Mas… eu faço faculdade à noite — confessou. — Eu não posso dormir na casa todos os dias.

Ethan ergueu os olhos.

Um simples movimento.

Um impacto enorme.

Por um instante, o ar pareceu se comprimir.

— A vaga é para babá residente — respondeu, firme.

Helena sentiu o chão balançar.

— Então… acho que não posso aceitar. — Sua voz saiu baixa, mas decidida. — Eu preciso continuar estudando.

O silêncio que se seguiu era denso.

Então a senhora Quinn deu um passo à frente, a voz calma, mas firme:

— Senhor Hartman, a rotina pode ser ajustada. Helena está disponível o dia todo. E a babá noturna cobre as madrugadas. Como já faz.

Ethan recostou levemente na cadeira. E olhou Helena de um jeito… intenso demais.

Ele não deveria se importar.

Mas ele se importava.

— A que horas você volta da faculdade? — perguntou.

— Entre nove e meia e dez.

Ele fechou a pasta com decisão.

— Isso não é um problema. — A voz dele veio firme, definitiva. — Desde que você durma aqui quando não tiver aula e esteja presente nos fins de semana alternados, a vaga é sua.

Helena piscou, surpresa.

— Mesmo eu não podendo dormir aqui todas as noites?

— Sim. — Ele inclinou a cabeça como quem observa algo com cuidado. — Henry precisa de você durante o dia. É o mais importante.

Aquela consideração…

ninguém tinha há anos.

A pergunta vinha com peso, mas também com esperança:

— Você aceita?

Helena respirou fundo.

O medo.

A necessidade.

A oportunidade.

— Aceito.

Por um segundo — apenas um — algo vibrou dentro de Ethan.

Um pulso antigo.

Incômodo.

Profundamente familiar.

Ele desviou o olhar rápido demais, como se apagasse aquilo antes mesmo de entender.

Ele não sabia o que era.

Mas seu corpo sabia.

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