A noite já havia descido sobre a cidade quando deixaram o hospital. As ruas estavam vivas de luzes e buzinas, mas no interior do carro reinava um silêncio que não era vazio, e sim denso. Rose, no banco da frente ao lado de Carlos, mantinha os olhos atentos ao retrovisor e às laterais da via. Pedro, recostado no banco traseiro, ainda parecia absorvido pelo que acontecera horas antes — o nascimento de Milla, a sobrinha que trouxera uma luz inesperada ao dia.
Ele observava Rose de soslaio. Havia ternura escondida por trás da rigidez dela no hospital. Um lampejo de emoção que Pedro nunca tinha visto. Mas agora, dentro do carro, tudo voltava ao estado de alerta. A profissional estava de volta, e cada músculo dela parecia pronto para reagir.
Carlos, o motorista de confiança da família Nascer, conduzia com a habitual calma. As mãos firmes no volante, os olhos saltando do espelho à pista, atento ao tráfego.
Foram alguns minutos assim, até que ele pigarreou baixo, quase hesitante:
— Dona Rose…