A porta se abriu lentamente, e o que vi me deixou sem palavras. À minha frente, estava um homem mais velho, com olhos que me pareciam familiares, mas ao mesmo tempo distantes. Seu rosto estava marcado pelo tempo, mas sua postura era imponente, e sua expressão carregava um misto de curiosidade e preocupação. — Samuel… — Ele disse, sua voz soando como se estivesse tentando se lembrar de algo. — Eu sabia que esse dia chegaria. O homem à minha frente não era o meu irmão. Era o pai adotivo dele. O homem que, segundo o diretor do orfanato, o havia levado para longe de Valmor. Sua aparência me causava uma mistura de emoções. Estava diante de um homem que, de alguma forma, havia feito parte da vida de alguém que eu considerava meu, mas que, ao mesmo tempo, era um estranho para mim. — O senhor é…? — Perguntei, sem saber ao certo o que dizer. — Eu sou Samuel. Estou procurando meu irmão. Ele foi adotado por sua família, muitos anos atrás. O homem me observou com um olhar penetrante, como se
Na manhã seguinte, a brisa fresca de Valmor parecia me lembrar que, embora estivesse rodeado por memórias e pistas de meu passado, eu ainda estava perdido. A cidade, com suas ruas tortuosas e prédios antigos, parecia guardar mais segredos do que eu jamais poderia imaginar. O encontro com o pai adotivo de Victor havia deixado um gosto amargo em minha boca. Ele não sabia onde Victor estava, mas parecia ter um pressentimento de que a busca por meu irmão não seria uma jornada fácil. O homem me entregou uma chave velha, que ele dizia ser do antigo escritório de Victor, um lugar onde ele costumava passar horas trancado, aparentemente em busca de algo que só ele sabia o que era. Ele não sabia muito, mas as palavras dele ecoavam na minha mente: "Tente, Samuel. Se ele ainda estiver em algum lugar, talvez isso te ajude." Eu não sabia o que esperar desse escritório, nem se eu encontraria algo relevante, mas a chave era um sinal. Eu tinha que seguir em frente. Não poderia parar agora, não depo
A carta havia mexido comigo de uma forma que eu não esperava. As palavras, simples mas profundas, pareciam ter um peso invisível. Quem era L? O que ele queria dizer com aquilo? A sensação de que algo muito maior estava em jogo me consumia por completo, como se as respostas estivessem logo ali, ao alcance da minha mão, mas ainda assim se escondendo nas sombras. Eu precisava entender. O escritório de Victor estava repleto de pistas, e cada uma delas parecia ser um quebra-cabeça, uma peça solta que só faria sentido se fosse unida com outra. Mas a carta de L me deixava mais confuso. Era uma carta de alguém importante, mas quem seria essa pessoa? Não era possível que fosse alguém de meu passado, pois não havia nenhuma memória que me conectasse diretamente a esse nome. Mas o fato de Victor tê-la guardado, colocado-a no lugar mais privado que ele possuía, mostrava a importância daquilo. A tarde se arrastava enquanto eu revirei mais papéis, tentando encontrar algo que pudesse me dar uma pi
Após o retorno de seu primeiro encontro com a mãe, Samuel se viu mais perdido do que nunca. A visita à casa de Clara havia trazido à tona não apenas um turbilhão de emoções, mas também uma série de questionamentos que pareciam não ter fim. Como ele poderia seguir em frente com tantas dúvidas sobre quem realmente era? E, mais importante, como poderia continuar a jornada de reconstrução de sua vida enquanto o peso do seu passado parecia tão presente?O silêncio que reinava em sua casa naquele final de tarde parecia ensurdecedor. Clara, agora internada em uma clínica especializada, estava bem, mas sua memória parecia flutuar entre a lucidez e a confusão. Ele sentia que, apesar de finalmente ter encontrado um pouco da verdade, ainda havia um abismo entre ele e as respostas que buscava.A tarde avançava lentamente, e as sombras se estendiam pelo chão de madeira do seu novo lar. Samuel estava sentado na sala de estar, os pensamentos indo e voltando entre as memórias do orfanato e os rostos
O sol havia desaparecido no horizonte, e Valmor estava envolta em uma leve brisa que suavizava o calor da tarde. Samuel olhava pela janela, contemplando a cidade silenciosa à medida que as luzes se acendiam uma a uma, criando uma paisagem tranquila, mas com um peso de melancolia em seu coração. A sensação de estar em um limbo entre o passado e o presente, com todas as perguntas sem resposta, estava se tornando cada vez mais difícil de ignorar.Helena, após uma breve conversa, havia se despedido para voltar para casa. Samuel sentiu a ausência dela imediatamente. Ela, com sua presença calma e palavras de encorajamento, sempre parecia trazer um pouco de clareza ao turbilhão mental que ele sentia. Mas agora, ele estava sozinho com seus pensamentos, e as dúvidas o consumiam novamente.Ele levantou-se e caminhou até a cozinha, decidindo que precisava fazer algo para distrair a mente. A sensação de estagnação estava começando a incomodá-lo. Ele colocou a chaleira para ferver, seus moviment
A noite estava mais densa do que Samuel imaginava. O peso das palavras de Isadora pairava no ar, e seu coração pulsava descompassado, tentando lidar com a avalanche de informações que ele mal conseguia processar. A revelação sobre a saúde de sua mãe e os segredos que pareciam estar enterrados há tanto tempo o deixavam confuso e agoniado. Tudo o que ele queria era encontrar alguma clareza, uma direção para suas emoções conflitantes.Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, enquanto a tensão no ambiente parecia aumentar. Samuel olhava para sua irmã, tentando entender suas intenções, mas havia algo em seu rosto que ele nunca tinha visto antes: uma mistura de dor e culpa. Ele sabia que a última coisa que ela queria era causar mais sofrimento, mas a verdade estava à sua frente, e ela parecia disposta a compartilhá-la.Finalmente, Samuel quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas firme:— Por que você não me contou antes? — perguntou, sentindo o peso da pergunta atravessar suas palavras.
Samuel caminhava pelas ruas da cidade com um peso no peito. Cada passo que dava parecia mais pesado do que o anterior, como se estivesse carregando não apenas o peso do presente, mas de todo o passado que estava prestes a ser desenterrado. O fato de ter decidido buscar a verdade o deixava dividido entre a ansiedade e o medo do que poderia descobrir. O que ele sabia sobre sua família? O que realmente significava aquele legado que seu pai deixara para trás? E o que ele descobriria ao finalmente abrir as portas de um passado que havia sido mantido em segredo por tanto tempo?Ao chegar ao escritório do advogado, Samuel parou por um momento na entrada, tentando reunir coragem. O prédio era imponente, com portas de vidro e uma fachada que passava uma sensação de formalidade e seriedade. Ele nunca tinha estado ali antes, e, por um instante, sentiu como se estivesse prestes a entrar em um território desconhecido. O medo de que a revelação fosse mais do que ele poderia lidar era real, mas a n
Nunca entendi por que meu quarto era o de número sete. Entre tantas portas desbotadas e maçanetas gastas pelo tempo, aquela era a única que rangia antes mesmo de ser tocada. O número estava torto, pendurado por um prego solto, como se resistisse a fazer parte do resto da casa. A maçaneta enferrujada não girava fácil — exigia um pequeno empurrão com o ombro. Era como se o próprio quarto recusasse visitas, até as minhas. Não havia muito ali dentro. Uma cama de ferro batido, com um colchão torto que afundava no meio. Um armário pequeno de madeira rachada, uma cadeira que rangia e uma janela com uma trinca no canto superior direito. Quando o vento soprava, a vidraça vibrava como se estivesse prestes a gritar. O cheiro era sempre o mesmo: poeira, mofo e alguma tristeza antiga. Mas ainda assim, eu gostava daquele lugar. Era meu. No orfanato Santa Margarida, onde eu vivia desde os quatro anos, poucas coisas eram verdadeiramente nossas. Roupas eram compartilhadas. Sapatos também. Brin