Mundo de ficçãoIniciar sessãoUma brincadeira de mal gosto entre colegas de uma universidade, pode se transformar em um grande amor, quando Melany, uma carioca, considerada nerd e fora dos padrões, cai nos braços de Henry, um playboy Francês de passagem pelo Brasil. Segredos e mentiras escondem lobos em pele de cordeiro, e o relacionamento proibido gera um fruto que Melany não pretende revelar. Porém, sua filha é diagnosticada com uma grave doença e após anos separados, um reencontro inesperado pode trazer à tona verdades, dentre elas, um amor que jamais morreu. Agora, com a vida de Alice em risco, Melany é forçada a fazer uma escolha: Confrontar o CEO Francês que a destruiu ou permanecer fugindo de seu doloroso passado?
Ler mais— Era uma vez o patinho feio, que, por causa de sua aparência diferente, foi rejeitado pelos seus irmãos e fugiu de casa...
— Ah, não, tia Mel, essa história é chata! — Carlinhos resmungou.
— É, essa nós já sabemos de cor, mamãe, conta algo diferente! — Alice falou cruzando os braços.
— A minha é diferente, vocês vão gostar. — Garanti, já que não fazia mais ideia de que história contar. — Como eu ia dizendo, o patinho fugiu de casa muito triste e se perdeu na floresta. Foi quando apareceu um lobo muito malvado!
— Lobo? Não tem lobo na história do patinho feio, mamãe! — Minha filha perdeu a paciência.
— Na minha tem!
— E aí, o que aconteceu? — O garoto começou a se interessar.
— O lobo mau fingiu que era seu amigo e que gostava dele. Então o patinho aprendeu a confiar nele e acreditou que não estaria mais sozinho, até que um dia o lobo o apunhalou pelas costas. — As duas crianças pararam, me olhando chocadas. — Mentira, quero dizer…
— Mel? Cheguei!
Tábata, a mãe de Carlinhos, chegou para a minha salvação, enquanto os pequenos ainda me olhavam bestificados.
— Graças a Deus, mamãe, a tia Mel não sabe contar história. — o menino disse emburrado e Tábata riu.
— Deixe a tia Mel descansar agora, tenho certeza que amanhã ela estará mais inspirada — falou sorrindo.
Me despedi do garoto com carinho e Tábata me conduziu até a porta.
— Perdão por atrasar mais uma vez, minha amiga, eu realmente preciso dessas horas extras, as coisas estão difíceis por aqui. — Ela falou meio sem jeito, assim que chegamos ao portão.
— Tudo bem, Tatá, eu não tinha nada para fazer e a Alice e eu adoramos brincar com o Carlinhos. Não é, filha?
Alice concordou balançando a cabeça.
— Obrigada… Aliás, vou providenciar uns livros para você ler, porque acho que a história do lobo mau que apunhalou o patinho feio pelas costas não é ideal para crianças — falou dando uma risadinha debochada. — É impressão minha ou está contando a sua história?
Eu ri.
— Quem sabe?! Sempre me identifiquei com o patinho feio… — concordei, ainda rindo.
— Só que na sua história, quem perdeu foi o lobo mau, olha só o belo cisne que você virou.
Tábata ergueu meu queixo com a ponta dos dedos e por um segundo quase me traí, sentindo as lágrimas preencherem meus olhos. Porém, prometi a mim mesma que jamais voltaria a derramá-las, não por ele.
— Obrigada pelo carinho, amiga, nos vemos amanhã. Pela manhã tenho uma entrevista de emprego, preciso me preparar.
Me apressei em sair dali, puxando minha filha pela mão, e chacoalhei a cabeça para afastar as lembranças que me tomaram.
— Boa sorte, minha querida, vai dar tudo certo.
Tábata é uma mãe solo como eu, e perdeu o marido de forma trágica num acidente de moto. Desde então cria o filho sozinha, trabalhando como faxineira para os ricaços da Zona Sul. Fazia cerca de dois anos que a conheci, quando comecei a fazer bicos como babá do seu filho, já que mais uma vez me vi desempregada e precisava de alguma forma sustentar a minha filha. Porém, o valor que ela podia me pagar era pouco e mal dava para as compras do mês.
Já passavam das 21 horas da noite quando subi a pé de volta para o meu apartamento. Bondade minha falar assim, pois se tratava apenas de um quartinho com banheiro que aluguei há uns quatro anos, quando me vi sozinha e sem rumo. Foi o que o dinheiro deu para pagar, mas qualquer coisa era melhor do que voltar para a casa do meu pai e bancar a gata borralheira, aceitando as humilhações que passei nas mãos da minha madrasta.
— O que duas donzelas fazem na rua sozinhas a essa hora? — Xandinho me abordou como de costume.
O moreno já sabia o horário que eu costumava sair e sempre dava um jeito de aparecer para me acompanhar, mesmo após todos os foras que eu já havia dado nele. Era o típico Brasileiro que não desistia nunca.
— Oi, Xandinho, que surpresa te ver aqui — falei ironicamente. — Quando o mel é bom a abelha sempre volta, nêm!
Sorri revirando os olhos.
— Apesar de que nunca provei do seu mel, minha Mel, será que um dia terei essa chance?
— Quem sabe no dia de são nunca.
— Larga de ser chata, minha boneca, amanhã vai rolar um pagodinho maneiro, vamos comigo? O que você acha? Só quero trocar uma ideia.
— Vou ver se a Ju anima, quem sabe… Se a mãe dela puder ficar com a Alice.
— Qualé, tu não sabe andar sem a gorda?
— Já falei que não gosto que fale dela assim, Alexandre!
— Foi mal, nêm, eu só queria um tempo a sós com você, para a gente ficar de bobeira.
— Tá, tá, tá… Vou pensar.
— Valeu coisa linda, perfeita, maravilhosa! — falou me abraçando com força enquanto andávamos desgovernados.
— Ei, só falei que vou pensar.
— Beleza! Te encontro às 20h.
Tive que rir.
— E se a Tábata precisar de mim até mais tarde de novo? Não posso garantir nada.
— Tudo bem, amanhã é sexta, nêm, e a noite é uma criança.
Suspirei, ciente de que teria tempo suficiente para inventar uma bela desculpa e que mais uma vez daria um bolo nele.
Chegamos na minha humilde residência e dona Agustina, a dona do quartinho onde eu morava, estava a postos na entrada do sobrado de papo com uma vizinha, tão fofoqueira quanto ela. Nunca vi uma pessoa para gostar tanto de falar das vidas alheias, mas apesar dos pesares, era dona de um grande coração.
— Obrigada pela companhia, Xandinho, boa noite, amanhã nos falamos.
— Eu que agradeço, paixão, aguardarei ansiosamente.
O moreno beijou o topo de minha mão com um olhar galante e presunçoso e bagunçou os cabelos da minha filha, antes de seguir seu caminho.
— Acho que você não deveria ficar andando com esse rapaz, meu bem. — Dona Agustina alertou assim que me aproximei. — Soube que ele tem envolvimento com gente da pesada, é cheio de rolo com os traficantes do morro. Se em algum momento o bicho pegar, vai sobrar para qualquer um que estiver junto, incluindo você e a sua filha.
Olhei para ela chocada.
— O Xandinho? Não, dona Agustina, isso é coisa que o povo fala, ele não mexe com coisa errada. — O defendi cegamente.
— Você que pensa, vai por mim…
Eu não queria acreditar, pois conheci o Alexandre logo que me mudei para a Vila Isabel e sempre me pareceu um cara correto, de boa família. Em certos momentos até pensei em dar a ele uma chance, se não fossem os traumas que carrego do passado.
Seguíamos escada acima, ainda pensativa, quando me deparei com a Ju, minha melhor amiga, filha da dona Agustina. Juliane é uma mulher negra, com uns quilinhos a mais, que já sofreu todo tipo de preconceito que se pode imaginar devido a esses detalhes, mesmo sendo dona de uma beleza natural encantadora e, sem dúvidas, a mulher mais empoderada que já conheci.
— Chegou, xuxú, achei que ia dormir lá hoje — falou dando uma risadinha enquanto me acompanhava rumo ao meu quartinho. — E você, princesa? Cadê o beijo da dinda?
Alice abriu um largo sorriso, saltando nos braços dela e seguindo em seu colo.
— A Tábata atrasou de novo — expliquei.
— Coitada, ela rala tanto para dar conta de tudo, eu fico com dó, mas também fico com dó de você.
— Não me importo, na verdade, mesmo não sendo muita coisa, o que ela me paga tem ajudado muito… Mudando de assunto, está lembrando que amanhã temos uma entrevista? Precisamos causar uma boa impressão e também… Preciso que alguém fique com a Alice, será que sua mãe se importaria?
— Eita, tem isso, né? — Juliana soltou uma risadinha. — Minha mãe fica, com certeza.
Acabei rindo e revirei os olhos. Uns dias atrás eu havia visto o anúncio de uma indústria de produtos de beleza. Pelo que entendi, era nova e abriram vagas para várias áreas, então nós nos candidatamos para as vagas de secretárias.
— Se der certo, você vai deixar a Tábata?
— Eu preciso de um salário, amiga, não posso viver de bico para o resto da vida. Nada contra o quartinho da sua mãe, mas eu quero morar num apartamento decente um dia, oferecer uma vida melhor para a minha filha.
— Ah, o que há de errado com esse aqui? Não é porque com cinco passos você chega ao banheiro e com mais dois você já está na cozinha que não é perfeito para passar o resto da vida — disse rindo. — Vai dar certo, xuxú, você é uma das pessoas mais inteligentes e cultas que já conheci. Já eu, estou indo só de acompanhante.
Juliane ainda ria, mas no fundo eu sabia que era uma armadura.
— Você é tão capaz quanto eu…
— Mas sou negra, gorda, tenho tattoo… Estou totalmente fora dos padrões. Você acha que entre eu e você, sem olhar currículo, só pela aparência, quem eles contratariam?
— Você tem um diploma de RH, eu nem isso tenho, isso conta muito.
— Conta só na sua cabecinha ingênua, amor. Eu já fui em muitas entrevistas e sempre perdi para as branquinhas padrão, por isso cansei e fui trabalhar com a mamãe… Mas quanto ao diploma, por que você não volta para a faculdade? Faltava tão pouco…
Me arrepiei só de pensar na possibilidade, as lembranças do passado ainda me sufocavam.
— De jeito nenhum, qualquer coisa menos isso.
Juliane suspirou.
— Já conversamos sobre isso. Você é muito mais do que pensa que é, mas se quer continuar pensando assim… Vai descansar, te encontro amanhã cedo.
Juliana virou as costas para sair, então a chamei brevemente.
— Você também é muito mais do que pensa que é…
Ela sorriu assentindo, os olhinhos brilhando, então se retirou.
Após o soco que levou, meu pai se afastou desnorteado, então Henry se aproximou rapidamente. — Mel, você está bem? — Quem são esses selvagens? Eu vou chamar a polícia! — Minha madrasta berrou. — Socorro, a minha casa foi invadida, socorro! — Vem, Mel! — Ele me ergueu do chão. — Quem é você, seu moleque? O que pensa que está fazendo? — Meu pai balbuciou com a boca sangrando. — Polícia, socorro! — A louca da Roberta ainda gritava.Então Leonardo também me apoiou e ambos me arrastaram até o carro.Me joguei no banco de trás, chorando dolorosamente, enquanto Henry arrancava com a BMW, e Leo me olhava preocupado.— Caramba, a situação é pior do que pensei. — Ele comentou, atordoado. — O que vamos fazer agora? — Comprar um remédio para ela.Henry falou ainda sério e, enquanto eu me debulhava em lágrimas, parou numa farmácia. Na sequência, voltamos para o apartamento, então ele me deitou suavemente na cama, me acariciando na cabeça.— Não se preocupe, você não precisa de nada que venha
Henry NarrandoNa noite anterior, emprestei uma camiseta para que Melany pudesse dormir mais confortável. Preparei o quarto vago para que ela ficasse à vontade e pudesse descansar. Eu esperava não me arrepender do que estava fazendo, mas vivia sozinho, ela era uma pessoa agradável e precisava muito de um ombro amigo, não vi por que não tentar ajudá-la.Me levantei pela manhã como de costume, usando apenas meu short de dormir e sem camisa. Por um segundo, havia esquecido que tinha uma convidada, e teria que me adaptar a essa nova rotina, pois vi o assombro na expressão dela ao sair do quarto e me ver vestido daquela forma, e tenho certeza que ela também notou o choque na minha expressão, quando vi a forma que ela estava.— Bonjour, doux miel — falei engasgado.Melany havia acabado de sair do banho, estava sem óculos, com os cabelos molhados e soltos, enrolada unicamente em uma toalha, o que me deixou extremamente impressionado, pois ela era realmente bonita. Ainda que absolutamente nat
~~ Henry narrando ~~ Após um tempo consegui convencê-la a comer um pouco, porém do jeito que estava sentada na cadeira, ela permaneceu. Não falou com mais ninguém, não tentou se divertir, sequer sorria.— Henry… — Larissa se aproximou já nitidamente embriagada. — Vamos dançar… Você podia me dar um pouquinho de atenção…Ela me agarrou, beijando o meu pescoço, tentando alcançar a minha boca em seguida. Notei que Melany desviou o olhar, mantendo a cabeça baixa.— Agora não, Lari… — Me esquivei suavemente e ela me lançou um olhar fulminante. — Mas que droga! Para que me chamou, então, se ia ficar socado aí com essa horrorosa! — Quer parar com isso? — falei, puxando-a para afastá-la. — É a verdade! — Larissa berrou com a voz embolada. — O Henry não gosta de você, ele só se aproximou por… — Cala a boca, Larissa! — aumentei o tom de voz, angustiado. — Leonardo, tira ela daqui! Acabou a festa, pessoal, todos podem ir…Leonardo saiu arrastando-a e me ajudou a dispersar os demais, explicand
~~ Henry narrando ~~ Voltei para casa depois de deixar Melany com um tremendo peso na consciência. Eu sabia que tinha ido longe demais, que ela criaria expectativas e que não merecia o que eu estava fazendo.Cheguei na faculdade na manhã seguinte e passei pela sala dela, mas não a vi. Eu precisava inventar uma desculpa coerente para finalizar o que havia acontecido, mas sequer sabia como.— E aí, Francês… — Leonardo, um amigo, se aproximou. — Como foi o passeio com a esquisita ontem? — Foi tranquilo — falei sem jeito. — Vocês deveriam parar de falar dela assim. — Qualé, já está apaixonado? — Um outro amigo zombou. Revirei os olhos. — Já paguei a aposta, agora deixem de gracinha. A menina já tem uma vida sofrida o suficiente. — Pagou quando que não vi? O combinado era ficar com ela na frente da faculdade toda, ou na sua festa, na frente de todo mundo! — Leonardo falou, gargalhando. — Está louco? — falei rindo. — Fiquei com ela, foi esse o combinado e já é o suficiente. — Quem n
Assim que finalizamos tudo, seguimos até a saída do shopping. Já era por volta de 20h da noite, então parei me despedindo.— Obrigada por hoje, e pelos presentes, você tem sido um ótimo amigo. — Disponha, mon doux Miel, vamos? — Eu vou por esse lado, vou pegar o metrô. — Nada disso, eu te levo. Vamos!Henry me conduziu até um BMW que era alugado. Imaginei a fortuna que ele não pagava apenas no veículo. Sentei-me timidamente, evitando até respirar para não estragar o carro.— Você parece tensa, relaxa… — ele falou rindo, enquanto dirigia. — Para onde estamos indo? — São Conrado, mas se for muito longe da sua casa, eu… — Moro no Leblon, é tranquilo.Sorri agradecida e seguimos em silêncio boa parte do tempo, até que ele puxou assunto.— Eu odeio shopping. Confesso que o convite não me agradou muito, mas até que foi divertido, você é uma boa companhia. — Ai, meu Deus, desculpa por te chamar, é que eu… — Não precisa se justificar, estou elogiando o passeio, oras… Eu gostei, de ver
Apesar dos pesares, em uma coisa a minha madrasta tinha razão: eu precisava trabalhar, precisava ter o meu próprio dinheiro, para não ter que recorrer mais ao meu pai sempre que precisasse de algo e também, eu queria comprar novas roupas, poder me cuidar.A questão é que eu não tinha experiência com nada e as pessoas me olhavam atravessado por causa da minha aparência, por isso decidi que precisava mudar.Os dias foram passando, e sempre que eu via o Henry, sentia o estômago se contorcer, e ele sempre fazia questão de me cumprimentar amigavelmente. Eu estava realmente iludida e acreditava que o meu conto de fadas era real, acreditava que o francês era capaz de me enxergar além dos trapos que eu vestia, além do óculos exagerado, mas não entendia porque nunca tomava uma atitude, até que o dia que tanto esperei, finalmente chegou.— Salut, doux Miel… — Ele me cumprimentou, me arrancando um sorriso. — Doce mel? — Você entendeu… — disse soltando uma risadinha. — Salut, mon ami… — respon





Último capítulo