A noite caiu sobre Valmor como um véu pesado. As luzes fracas do orfanato mal conseguiam iluminar os corredores compridos e silenciosos. Samuel mantinha os olhos atentos ao relógio quebrado na parede, cujo tique-taque irregular parecia zombar de sua ansiedade. Faltavam poucos minutos para a meia-noite.
O bilhete misterioso ainda tremia em suas mãos. “Hoje à meia-noite. No sótão.” Aquilo poderia ser uma armadilha — ou a chance de finalmente obter as respostas que tanto buscava.
Na cabeça de Samuel, as vozes de Irmã Amália e do homem desconhecido ainda ecoavam, confundindo e alimentando sua desconfiança. A sensação de que tudo ao seu redor era uma peça de teatro cuidadosamente encenada o fazia se sentir como um estranho em sua própria vida.
Ele se levantou devagar, tentando não fazer barulho. O dormitório estava escuro, com apenas a luz fraca da lua entrando pelas janelas. Alguns garotos roncavam suavemente, mergulhados em sonhos comuns. Mas o dele, se é que podia chamar de sonho, es