Mundo ficciónIniciar sesiónEle ouvia Ícaro falar, nas na verdade sua atenção estava na recepcionista da Team Masters e na forma como ela explicava as formas de pagamento para os outros visitantes.
— ... E aí você pode ficar vindo até o dia que você tiver de voltar para a fazenda, Baha. — Ícaro se referia aos dias em que Alex iria ficar em Phoenix. — Hey! Tá dormindo, cara? — Queria... — Alex se voltou para Ícaro, mas o encontrou com um olhar desconfiado e repreensivo. — Tá de sacanagem, né? — Ícaro diminuiu os olhos e cruzou os braços. — É sério? — perguntou de forma esganiçada. — O quê? — Alex deu de ombros — só estou ouvindo o que a moça tá falando. Tenho que pagar minha diária, certo? — se fez de desentendido. — Espero que seja só isso mesmo, Alex. — Ícaro não sabia se acreditava totalmente. — Hey, qual é? — Alex tocou o ombro do amigo que também era empresário mas no ramo das transportadoras. — Você me conhece... Ícaro ainda o olhava com desconfiança, mas decidiu relevar. Ele sabia qual era o tipo de mulher com quem o amigo se envolvia e poderia dizer que Érika não estava no padrão de Alex. Ignorou o que pensou e ambos se dirigiram a recepção, mas ela já não estava mais lá. Raphael estava se preparando para deixar o centro de treinamento quando os dos o alcançaram. — Sensei, Baha ainda não pagou. — Ícaro se apressou em informar para não parecer um calote. — Ele vem amanhã, certo? — Rapha perguntou olhando para Alex de forma convidativa. — Sim, claro. — ele concordou e de fato, havia gostado da aula. Era faixa azul e gostava de Jiu-jitsu, mas algo mais o atraiu, mesmo que ele não tivesse tanta certeza ou não quisesse aceitar aquela informação. — Onde posso fazer a matrícula? — Mas você volta para a fazenda na próxima semana, não é? — Ícaro perguntou confuso. — Não precisa se matricular. É só acertar o valor da diária, correto, sensei? — voltou-se para Rapha. — Veja com a Érika, ela vai explicar tudo e você pode fazer um planejamento compatível com sua agenda pelos próximos dias. — Oss! — Alex concordou com a saudação Jiujitsuka e claro que ele já sabia como funcionava... Mas queria um pretexto. — Ah, olha ela ali! — Ícaro olhou para o tatame e Alex imediatamente o seguiu. — Hoje eu acho que não dá mais porque ela já encerrou. — Rapha sorriu e se aproximou um pouco da passagem entre a recepção e o tatame onde Érika estava concentrada em colocar a bandagem nos punhos ao som de Bon Jove. — Agora é o treino dela... — ele falou orgulhoso, assim como Ícaro também observava. Mas outros olhos também a observavam. Alex estava claramente intrigado... Ela não usava um quimono e estava muito perto dos sacos. A curiosidade para vê – lá treinar o pegou com força. — Só amanhã, Baha. — disse Ícaro caminhando para a saída. Alex o seguiu, tentando disfarçar a curiosidade e, só mesmo tempo, louco para perguntar sobre o que ela praticava. Sabia que era algo relacionado ao uso de luvas de boxe, mas queria ter certeza. O caso é que se perguntasse, iria deixar o interesse evidente e ele não estava interessado, certo? — Até amanhã, Érika! — Rapha se despediu gentilmente como sempre, seguido por Ícaro. — Bom treino, gata! — Ícaro passou a frente de Alex que o seguiu, mas não antes de acenar novamente para ele e receber outro aceno de cabeça em resposta. Quando percebeu que eles saíram, Érika voltou a respirar. Não quis pensar muito sobre o assunto, optando por se concentrar no seu muay Thai. Logo estaria em casa, junto aos filhos e aquela sensação ridícula iria passar. Ela quis acreditar nisso. ~ As 17:45 ela desceu no ponto de ônibus agradecendo por já ser sexta-feira. O corpo pedia descanso, mas antes precisava cumprir com o compromisso de todas as sextas com os filhos, sobrinhos e crianças das proximidades. Jogar “baleado” na rua até as 20:00 da noite com todas as crianças do quarteirão era um compromisso que ela mantinha de pé desde que mudou-se para Glendale, uma cidade povoado próximo a Phoenix, no estado do Arizona. Uma decisão difícil que Érika tomou depois de se separar do pai de seus filhos e deixar a Califórnia com tudo para trás, após 11 anos de um matrimônio que só lhe rendeu traumas, tristezas, dependência emocional e financeira, abusos, humilhações e traições. Tudo só piorou quando o Mason foi diagnosticado e o peso do preconceito atingiu com toda a força as estruturas de uma família que já era extremamente frágil. Edson Parker, pai de Mary e Mason não aceita a o filho por considerá-lo inválido, inútil e i digno de ser seu filho, chegando ao ponto de tentar fazer Érika escolher entre Mary e Mason. Sugerindo que ela deixasse a menina por ser “normal” e levasse consigo apenas o menino porque este era “doente”. Para Érika não tinha o que ser pensado. Ela simplesmente pegou as crianças e deixou a cidade e o estado onde o pai é avós paternos moravam, onde tinham residência, transportes próprios e uma ótima condição financeira; entretanto, nada disso trazia felicidade para ela e para os filhos. Foi um relacionamento que com e ou na adolescência, quando ambos eram muito jovens, frequentando a igreja... Na época Edson era um jovem convertido, cheio de sede pela busca espiritual e a presença de Deus. Um cara boa praça, nascido e uma família sólida, bem sucedida e tradicional. Por outro lado tinha Érika, jovem de 18 anos, convicta de sua fé, estudiosa, levita da igreja, marcada por uma infância carregada de traumas e marcas do abandono, rejeição, agressões, enfermidades e mais abusos... O que poderia dar errado nessa união? Tudo. E só depois de perceber o quanto foi carente e o quanto estava desesperada por amor e carinho, Érika entendeu que havia cometido erros terríveis e o preço era recomeçar e nesse trajeto, reiniciar as próprias emoções, sem dar espaço para qualquer chance de afeto porque sabia que está doente e refém da dependência emocional. Ela se culpava por não ter garantido um lar estável para os filhos. Durante os últimos dois anos lutou contra a pergunta que não calava: onde havia errado? E a resposta era sempre a mesma: um vazio que pairava sem nenhuma conclusão exata que não fosse culpa. A única que ela sempre esteve convicta foi da própria fé e de que Deus era o único com quem ela poderia sempre contar...






