Mundo ficciónIniciar sesión— Vamos, vamos! Não quero ver nenhuma barra no chão! — A voz estrondosa do read coach e proprietária da academia ecoava no setor da recepção, mesmo que a aula estivesse ocorrendo no box de Crossfit. — Raphael já chegou? — Fabiano Gutierrez, esse era o nome do carrasco que falava alto e ao mesmo tempo que estava em um lugar, aparecia em outro.
Érika se perguntava como isso era possível, mas partindo do seu patrão gritalhão e desequilibrado, ela não duvidava de mais nada. — Entrou no tatame agora. — ela respondeu sem olhar para ele, totalmente concentrada na nova matrícula que estava fazendo. — Chegou aluno novo no “jiu”. Rapha pediu para dar o desconto de iniciante. Fabiano continuava olhando para ela e se perguntando quando ela deixaria de ser tão, tão... ele nem sabia especificar. Nunca havia lidado com uma pessoa como Érika antes. Ela o deixava desconcertado como ninguém conseguia. Não o bajulava como os outros funcionários ou alunos; mas demonstrava um profissionalismo e honestidade espantoso. Ela também não conversava com todos os alunos e nem se encaixava em panelinhas, mas tinha o respeito deles de uma maneira que ele mesmo como professor e dono do estabelecimento não tinha. Como isso era possível? — E você? Vai treinar o que hoje? — ele perguntou arqueando a sobrancelha é querendo atenção, claro. — Muay Thai. — ela respondeu e finalmente o olhou. — Vai treinar sozinha de novo? Você tem que parar com isso, Érika. Se é turma com a galera do cross, rapaz! — nem ele sabia se era uma bronca, conselho ou pedido, mas sentia necessidade de ajudar aquela mulher, ou pelo menos desvendar aquele enigma que ela representava. — Amanhã eu faço cross, professor. — ela respondeu com sinceridade e não foi preciso dizer mais nada para que Fabiano entendesse que ela estava querendo ficar sozinha. Ele respeitava, afinal, ela também mantinha a coordenação da limpeza da academia. Cuidava de tudo com carinho e tinha acesso a todos os setores. O fato era que Érika havia se tornado alguém fundamental para a Team Masters e nem ele mesmo conseguia ver aquele lugar sem ela. Para ele já era normal sair e saber que ela ficaria até o final e entregaria tudo em perfeito estado, mesmo que ele não estivesse. A única coisa que realmente o incomodava era saber que alguns alunos tinham mais respeito por ela do que por ele, e isso era inaceitável. Esse era o motivo de ele sempre humilhá-la em público, sempre que conseguia, porque nem isso parecia afetá-la. Desistindo de um diálogo, Fabiano voltou a área do cross e Érika continuou o que fazia. — E aí, meu bem? — Ícaro, um dos alunos faixa roxa do horário das 12:00 passou na recepção assim que chegou acompanhado por seu filho. — Como você está ? — perguntou com o carinho de sempre. — Estou bem, e vocês? — ela os cumprimentou sorrindo. — Tudo na paz. — ele piscou e iria seguir, mas lembrou que precisava avisar sobre algo. — Gata, hoje eu convidei um amigo para pegar um “rola” aqui. Cobra a diária, tá? — Mas ele vem como convidado ou é uma experimental? — Érika perguntou abrindo o registro de entrada para deixar o aviso. — Não sei, gata. Vai depender de quanto tempo ele vai ficar. — Ah sim, então ele é visitante. — ela concluiu. — Pode deixar que eu dou um desconto na diária dele. — Valeu, meu bem! — Ícaro seguiu para o tatame e ela continuou no balcão atualizando cadastros e contando as próximas horas para ficar sozinha e fazer o próprio treino ao som de um bom rock. A medida em que o tempo passava, alguns alunos de Crossfit passavam por ela, despedindo-se e literalmente derrubados. Érika sabia como era aquela sensação e por mais destroçado que o corpo estivesse, a endorfinas, dopaminas e tantas outras substâncias prazerosas liberada pelo treino era compensadora. Um box de Crossfit sempre seria uma mistura de hospício e calvário. O silêncio parcial logo reinou e a confusão sonora havia acabado. O intervalo das aulas de Crossfit havia começado, então não havia mais música eletrônica; apenas o rep e trep da galera jujiteira rolando no tatame Menos mal. Mas ela ainda preferia o bom e velho rock. Quando finalmente esticou o corpo e decidiu pedir algo para comer pelo aplicativo, alguém passou pelas portas de vidro fazendo-a revirar os olhos e lamentar internamente, virando-se impaciente para receber o “retardatário” com um sorriso muitíssimo ensaiado... — Olá... — tudo parou. Os segundos seguintes registraram um homem extremamente alto, vestido apenas com uma bermuda preta e camiseta regata branca, pele bronzeada e tatuada por todo um grande e forte braço, inexpressivo e de olhar marcante respondê-la com um breve aceno de cabeça e nada mais. E foi o suficiente para Érika tremer e perder o fôlego.






